26-10-2006- Paulino Neves- Barreirinhas.
1. Acordei antes das 5 da manhã, com o cantar de dezenas, senão centenas de galos, cujo chamado se mesclava num ulular fantasmagórico.
Saí do quarto para iniciar a minha primeira caminhada entre os Lençois Maranhenses, mais concretamente na zona que chamam pequenos lençois. Paulino Neves é o único povoado onde é possível aceder a pé às dunas.
Andei uns 2 km pela vila deserta até que vi um Oceano de Dunas, como o das fotos que impulsionaram a minha viagem. Lindo, com a luz difusa do Sol que despontava.
Comecei a trepar o areal que parecia fumegar pela acção do vento sobre a areia branca e fina. Ao chegar a uma duna mais alta, fiquei com a Vila nas minhas costas, uma lagoa à minha esquerda, um mar de dunas à direita e uma ria seguida de Praia pela frente.
Avancei até à planicíe de pasto que me separava da orla marítima. Andei pelo meio das vaquinhas (muuuuuu!!!), das cabrinhas (mééééééé), dos cavalinhos (rinch brrrrrr) e dos fanhosos a levar no rabo (hon hon hon hon hon hon hon). Não sem receio, diga-se, porque eu, como bom city boy, não sei muito das reacções destes animais. mas sobrevivi!
Cheguei á Ria e andei por uma língua de areia que a cortava a meio, sem no entanto chegar à praia, que, se não era virgem, pelo menos não deve ter visto muita pila. Já não tive coragem de contornar a Ria para aceder à Praia, já tinha caminhado uns km e ainda tinha que regressar à Pousada. Já foi muito bom assim.
Depois foi tomar o café da manhã, ler, deitado na rede, falar um pouco com a Dona Mazé da Pousada, uma velhinha muito simpática e que exala uma tranquilidade sábia, e depois embarcar em mais uma viagem esmaga-coccis até Barreirinhas, mais 2.30 na traseira de um Land Cruiser.
Quanto à viagem, nada de especial a registar. Acompanharam-me 2 nativos, um casal de brazucas freaks com expositor de brincos e pulseirinhas e tudo, um casal de americanos de S. Francisco, um Casal de Israelitas de Tel Aviv e dois Pilotos da Iberia Madrilenhos.
Estes últimos fizeram-me inveja, pois desceram desde Quito, no Equador pelo Peru até à Amazônia.
Cheguei a Barreirinhas e instalei-me na Pousada Lins. Biblia Lonelius Planetus dixit, ego facet (já não me lembro das declinações latinas, pensando bem acho que nunca as soube). Mais uma vez estou à patrão. Podia pagar 10 ou até 5 Euros por um quarto, mas pagando 20 tenho piscina, rede, casa de banho grande, silêncio e paz, sempre que tal me permitem as carrinhas da campanha eleitoral, que correm desembestadas todas as localidades do Brasil em busca do ultimo votinho.
Amanhã vou aos Lençois Maranhenses propriamente ditos, a outra Lagoa Azul. Será desta, Brooke? Ainda mais agora que a minha cunhada me informou, com base nas suas leituras de Jornalista de respeito, como a Gina e a Ana + atrevida, que deixaste o gajo das raquetes?
Sábado vou fazer outro passeio, a Caburé, e Domingo zarpo daqui em direcção a Santo Amaro.
2. Entretanto, prossigo a minha Maratona literária, ¨ Viva o Povo Brasileiro¨, 673 páginas, A5, letra pequena, já li 450.
Versa sobre a génese deste País, de forma romanesca e exemplarmente bem escrita, sobre como ele foi erigido pelos nossos brutos antepassados à custa do sangue, suor e lágrimas de milhões de negros, explorados, humilhados, tratados abaixo dos animais, sendo que estes têm a benção de não inteligir.
Perdão, Irmãos, e obrigado por não descarregarem sobre nós a cruel vingança que merecemos.
Toda a gente fala do holocausto, mas a escravatura terá dizimado ainda mais gente, depauperando ainda mais o continente africano, já de si tão inóspito.
São coisas do passado, dirão alguns. 100 anos, atendendo às sevícias a que foram sujeitos, não é passado, são os nossos bisavós e os deles!
3. Hoje dei uma queda aparatosa no centro deBarreirinhas. O meu chinelo prendeu-se num ferro espetado no chão e caí para a frente. Valeram-me o Hoquei e o judo, que me ensinaram a cair instintivamente sem me magoar.
Curiosamente, apesar de a rua estar cheia e de ter inclusive soltado um UFFF sonoro, aparentemente ninguém viu. YES!!!! Ainda bem, está calor demais para corar...
Mazelas: um fio de sangue a correr de debaixo da unha do pé (Mãe, já pus betadine e um penso) e uma amolgadela na lombada do Moleskine,].
4. Finalmente a Lua começa a despontar! Estava a ficar farto das noites escuras, faltava este elemento essencial, o Luar.
Bebi uma caipiroska numa esplanada sobre o Rio Preguiças, em Barreirinhas, a fazer tempo para que fosse uma hora decente para jantar. Não é que não tivesse fome, mas eram !8:15, e isto de ter horários de reformado inglês no Algarve de sandalinha e meia branca tem que acabar!
Os meus companheiros de viagem, excepto os nativos e os freaks, estavam na mesa ao lado, e convidaram-me para juntar-me a eles. Fui, que remédio, estava um pouco relutante porque isto das relações sociais pode tornar-se absorvente, e não me quero desviar muito dos meus planos. Para além disso, não tinha simpatizado muito com eles.
Mas enganei-me rotundamente, passei uma noite muito agradável, sobretudo com os americanos e os espanhóis, pessoas interessantíssimas, que viajam pelos sítios mais incríveis e me fazem sentir como um menino que está a atravessar a rua sozinho pela primeira vez. Um esteve três meses em Madagascar, outro fez uma digressão pelo Senegal a tocar com uma banda de Reggae Local e tal e tal e tal.
Mas pessoas simples e abertas, que aparentemente gostaram de mim, já que me convidam para tudo e mais alguma coisa, precisamente o que eu não queria, mas logo se verá.
Mas enfim, é para aprender a não julgar as pessoas pela 1ª impressão. passámos a noite a beber cervejas de lata, a conversar e a ouvir os americanos cantar, tocar guitarra e harmónica, desde Folk a música Guatemalteca de raíz sandinista, passando por Neil Young. muito COOOOLL!
1 Comments:
A vida às vezes pode ser chata quando passamos o dia a trabalhar em frente a um computador caquético e a levar com um ar condicionado que dá cabo das entranhas, e ao mesmo tempo há alguém que, a respirar o ar e a paz dos deuses, vive as aventuras mais extraordinárias a cada minuto que passa. Então, grito alto e bom som (para dentro, claro): 'VIVA A P*!# DA INTERNET!!' para que possamos partilhar tudo isso, reconstruir o teu cenário paradisíaco dentro das nossas cabecinhas e viver lá durante um bocadinho. Não é difícil, as tuas palavras encaixam-se sempre no sítio certo, píxel a píxel.
Enjoy the ride!
Friend of a friend.
Post a Comment
<< Home