Tuesday, April 08, 2008



17-10-2006- Lisboa- Fortaleza

Comprei o Célebre Moleskine, armado em campeão. Só depois reparei que era uma agenda, ainda por cima de 2007... Começa Bem!!

Paguei Tap, viajo na White, companhia aérea com nome de dentífrico de que nunca tinha ouvido falar. Resultado, espaço exíguo para as pernas, se a Vechia Signora do banco da frente resolve reclinar o assento, os meus joelhos tocam-me nas bochechas. E o cidadão entroncado que viaja ao meu lado insiste em tocar-me com a perna e o braço. E quero fumar... ARGHHHH! vou fumar o resto da minha vida para afrontar este Estado paternalista! Neste mundo pode-se matar, agredir, bombardear, oprimir, contanto que não se fume! Quando tiver o meu cancro no pulmão vou gritar para a porta da Assembleia da República: TOMA!!!!

Para ajudar à festa, ao lado da velha está uma Brasileira expatriada em Itália, com mais mamas que juízo, que não pára de olhar para mim e sorrir.

Muito por culpa da falta de nicotina e das outras 4.700 substância tóxicas que compõem o fumo do cigarro, não paro de me lamuriar. É tanto mais absurdo porque nos bancos centrais ao meu lado viaja um cidadão francófono amputado a meio dos dois antebraços, com a cara toda queimada e praticamente cego (tem um monóculo/lupa acoplado na lente direita dos óculos de fundo de garrafa) que lê sobre einstein e faz equações com o auxílio de uma espécie de pulseira de silicone com suporte para caneta. Acompanham este quasimodo dos tempos modernos dois viadinhos brasileiros!

A banda sonora da minha viagem é creditada a uma senhora da terra de Satã, de seu nome Polly Jean, Harvey pelo casamento, Femme extraordinaire munida de túbaros de cavalo. As sete horas de viagem serviram para ouvir a discografia completa. obrigado Polly. Want a cracker?

PJ Harvey- Legs

Oh you're divine Oh you're divine
Oh Oh Oh did I tell you you're divine
Oh Oh Oh Oh did I ever when you were alive

Did it hurt when you bled?
Did it, oh lover boy, oh fever head?
I'll bet you never thought I'd try
Your mouth, my love, was open wide

Singing oh you were going to be my life
Dammit!Oh Oh Oh Oh you were going to be my life
Did you sing "Oh happy day"?
Singing it Sing it that time I went away?

Got to ease my aching head
Do you know No other way cut off your legs
ohHey ohDid you ever wish me dead
Oh lover boy, oh fever head?

No you must, no you must not go away
How will you ever walk again?
And I, I might as well be dead
But I could kill you instead...


Fernando Gabeira: " Sempre que me vou despedir de alguém, a paisagem de volta do Aeroporto me parece estúpida e banal."

Fila gigante no controlo de passaportes no Aeroporto de Fortaleza. Só para gringos(SWEET REVENGE). Uma funcionária passa pelas 100 pessoas que (des)esperavam e pergunta: " Tem algum Filipino aí?"

EU AMO ESTE PAÍS!!!!

Piada de uma Polícia Federal Barsileira para um colega, enquanto ele me controlava o passaporte: " Mulher é como chiclete! a gente come mastiga, cospe, pisa e ela ainda gruda no pé."

Cheguei ao Hotel em Fortaleza, que é uma mistura de Torremolinos com Quarteira. saí do Táxi e o motorista chama-me. Tinha deixado caír a bolsa com o passaporte, cartões de crédito, voucher do hotel, bilhtete de avião e 400 Euros no chão ao lado do carro!


18-10-2006 Fortaleza- Jericoacoara

Saí de Quarteiridorm com alegria. Agora sim, vai começar. A viagem entre Fortaleza e Jijoca decorreu sem incidentes. A Jardineira entre Jijoca e Jericoacoara, sempre em picada e pela praia, ía acabando com os meus tomates. Surpreende-me sempre como é que há pessoas a viver nos sítios mais ermos. pobreza de Job, ficam os sorrisos das crianças.

Em Jijoca, enquanto esperava a Jardineira, vi dois pedreiros artistas. Num prédio em construção, o que estava em baixo lançava tijolos para o que estava no 1° andar com a ajuda de uma vara, e este apanhava-os sempre com um jeitinho de anca ou levantando um pezinho.
Andou o Arquimedes a inventar a roldana para isto!!!

A Pousada Calanda é a MAIS BONITA DO MUNDO!!!








Duna do pôr do Sol- Majestoso!!! estavam umas 100 pessoas a ver o crepúsculo e no final aplaudiram. O Sol Agradece!!!





















O pior de estar sozinho é a hora das refeições. Ainda por cima não trouxe um livro. Fico a ouvir um Reggae Brasileiro bacana (Armandinho) e a trocar sorrisos com a Garçonete bonitinha, que apesar de ter uns 18 anos, já é casada. Comi espeto de Camarão com manga e Filé de Peixe, ambos divinais. bebi duas caipiroskas, fiquei bêbado, e adormeci às 20.30, hora local.


19-10-2006- Jericoacoara

Acordei à uma da manhã. Voltei a dormir até às 4.30. Saí da pousada para ver o nascer do Sol na duna. Sublime, ainda mais bonito o opúsculo que o crepúsculo! e desta vez ninguém aplaudiu.










Andei pela praia deserta com um cãozinho preto que me adoptou. fez todo o caminho comigo, só parando para ladrar aos pássaros nas lagoas.











Voltei à pousada mais bonita do mundo. deitei-me na rede da zona comunitária Zen e abri o Livro ¨Mar Morto¨ de Jorge Amado! Obrigado, Ana, difícil vai ser ler outro depois...

Ás 7.30 fui tomar o pequeno almoço. Vi que no quarto ao lado do meu estava um casal de Italianos com o filho de um ano e pico que veio comigo no Avião. O filho é lindo, de anúncio de fraldas Dodot, e ela é um mulherão, alta, morena, com aqueles olhos felinos que só as Italianas e as Brasileiras têm. o Gajo caguei, eu não sou desses. Mãe e filho chamaram-me a atenção no avião pelo amor imenso que irradiavam, tão lindos os dois!

Saí novamente, agora para o lado oposto da Duna do pôr do Sol. Andei pela praia, subi um cerro, desci, e regressei pelas pedras. Que saudades de quando era puto, quando andava pelas pedras com agilidade. Agora parecia uma velha, sempre de mãozinha no chão. Também por estar sozinho (imaginei-me a gritar SOCORRO!!!) e por não querer estragar este momento mágico que estou a viver. Depois, pousei a tralha e dei o 1° mergulho no Mar. A água estava absolutamente perfeita!














Estou tão feliz por ter vindo!

Voltei para a pousada dos meus sonhos. No sítios Zen das 4 redes estavam três viadões italianos. Não podia ocupar a quarta rede sem que isso fosse mal interpretado. Deitei-me então na cama do quarto a ler o Velho Sr. Baiano e a ouvir o Moon Pix de Cat Power. MELHOR? IMPOSSÍVEL!!!


Há precisamente um ano atrás, no dia 19 de Outubro de 2005, vivi o pior momento da minha vida. Estava em Alfragide, a fazer a inspecção do carro do Tito Paris (?!?!, retalhos da vida de um ex-advogado), quando o meu irmão me ligou.

¨ O Pai está muito mal- disse-me- vem para cá¨.

Ele estava no Hospital, levámo-lo para lá três dias antes, e eu sabia que em breve ele ía embora.
Entrei no quarto de Santa Maria. Ele fitou-me com olhos de louco. O figado tinha deixado de vez de funcionar e já não filtrava uma qualquer substância alucinogénica que o organismo segrega naturalmente.
Estava amarrado à cama, queria fugir, pensava que o vinham matar. O meu irmão acha que ele julgava estar na Guerra. Dizem-me que os cinco anos que passara na Guerra em Angola o transfiguraram, o tornaram taciturno, a ele e a muitos da sua geração. Eu sempre o conheci assim, com medo e ódio de tudo e por todos.
Por isso, para mim, ele estava numa trip diferente. Sabia que ía morrer e a droga endócrina fê-lo criar cenários. o cancro maldito transformou-se na polícia que o vinha matar.
Segurei-lhe a mão, pela primeira e última vez. O meu irmão também. Ao fim de umas horas e com a ajuda de sedativos, acalmou-se e adormeceu. Fomos embora.
No dia seguinte melhorou, e eu soube que seria a última vez. Depois entrou em coma e deixou-nos.
Adeus Pai! Nunca foste um modelo, nem nunca tivemos nada em comum (excepto o nosso Benfica), mas sei que gostavas de mim!

Tenho saudades, por isso te chorei tanto hoje, enquanto caminhava pela Praia deserta!






Djavan- Oceano

¨Assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão
dava pra ver o tempo ruir
cadê você? Que solidão!
Esquecera de mim?

Enfim,de tudo o que há na terra não há nada em lugar nenhum
que vá crescer sem você chegar
longe de ti tudo parou
ninguém sabe o que eu sofri

Amar é um deserto e seus temores
vida que vai na sela destas dores
não sabe voltar
me dá teu calor

Vem me fazer feliz porque eu te amo
você deságua em mim e eu oceano
e esqueço que amar é quase uma
dor

Só sei viver se for por você!¨

Conforme disse uma certa loura platinada que eu adoro, cujo nome não vou revelar, mas que tem alcunha de imperatriz austíaca e partilha sobrenome com um certo Major intocável, ¨è tão bonito quando alguém sabe ser romântico¨


20-10-2006- Jeri- Lagoa Azul- Lagoa do Paraíso- Jeri

Ainda não tive oportunidade de aceder a uma lista telefónica para praticar o meu desporto favorito quando venho ao Brasil, ¨Namespotting¨.
É notável a quantidade de ...ineides e ...ovaldos que existem aqui em terras de Vera Cruz (pera aí, esta não era a gaja que apresentava o Agora Escolha?)
Para mim, os campeões em título são os jogadores da bola Wesnalton, Jociválter e Darnlei. No caso deste último, o Pai dele devia estar naufragado em cachaça quando foi ao Registo, decerto a intenção seria chamá-lo Wanderlei.



Gostava de ficar algum tempo aqui, mas sinto ânsia de partir em busca de outros paraísos. Se pudesse ía e deixava cá um alter ego [ se fosse brasileiro e tivesse filhos gémeos, chamaria a um deles alteregineide ou alteregovaldo]




Comer macaxeira frita e beber uma Brahma geladinha à beira da lagoa azul. sweet!







Continuo à espera que apareça a Brooke Shields toda nua... Brooke, filha, tu és virgem, eu sou Balança, vem-me fazer cafuné, que no Agassi já não dá!!!
Para quem não sabe, esta menina arrogou-se de virgem durante anos, America's sweetheart obligé. parece-me a mim que era mais tipo Jardel, só com a cabecinha...
E para calar as bocas de reacção que fazem circular nalguns meios que eu estou a ficar careca, venho esclarecer que o meu cérebro não pára de crescer, o que leva a uma natural distensão dos ossos frontal, occipital e parietal, ou seja, da testa.





Terminei o ¨Mar Morto¨ nas margens da lagoa do paraíso.









Obrigado Jorge, Amado até por Yemanjá. Segue-se João Ubaldo Ribeiro, ¨Viva o povo brasileiro¨. VIVA!!! O Durrel [my precious] fica para depois.




O bom de estar aqui sem muié:

¨ Quer pulseira?

Não!

Quer um Chapéu?

Não!

Vai um biquini para oferecé?

Não! ¨

Sempre com um sorriso aberto, um não rotundo e terminante, mas com leite condensado.




Estou com stress, nunca mais chegam os bolinhos de macaxeira com queijo...




Tarde em Itapuã- Vinícius e Toquinho

¨Um velho calção de banho
o dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
e um arco-íris no ar

Depois, na Praça Caymmi
sentir preguiça no corpo
e numa esteira de vime
beber uma água de coco,

é bom Passar uma tarde em Itapuã
ao sol que arde em Itapuã
ouvindo o mar de Itapuã
falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
um verde novinho em folha
argumentar com doçura
com uma cachaça de rolha

E com olhar esquecido
no encontro de céu e mar
bem devagar ir sentindo
a terra toda rodar,

é bom Passar uma tarde em Itapuã
ao sol que arde em Itapuã
ouvindo o mar de Itapuã
falar de amor em Itapuã

Depois sentir o arrepio
do vento que a noite traz
e o diz-que-diz-que macio
que brota dos coqueirais

E nos espaços serenos
sem ontem nem amanhã
dormir nos braços morenos
da lua de Itapuã.¨


Esta é a música de amor da minha Mãe e do meu Pai vivo, seres que adoro e admiro profundamente, tudo o que tenho de bom brotou deles. Curiosamente, casaram no dia 22 de Outubro de 88, precisamente 18 anos antes de o meu outro Pai ter viajado.






¨Eu sei que caio no inexplicável quando afirmo que a realidade, essa noção tão flutuante, é o conhecimento o mais exacto possível dos seres, e é o nosso ponto de encontro e a nossa via de acesso para as coisas que ultrapassam a realidade¨

Esta reflexão de Margueritte Yourcenar serviu de mote ao 1° livro sério que li,aos treze anos, ¨Memorial do Convento¨, de um certo Comunista canário. Isto ficou-me de tal modo gravado na mente que a sei em francês, conforme está no livro, eu que nem percebo muito do idioma de Baudelaire e Alain Prost.
Certo é que este conceito é uma das bases da perspectiva que desde cedo adoptei de todo este teatro existencial.
O meu maior logro nesta já não tão curta existência foi ter purgado toda a formatação, sou dono da minha filosofia!






Prostro-me e aceito que o Sol fustigue a minha pele. Não coloco entraves. Afinal, o Astro é Ele!



Aqui em Jeri, para lá das dunas de areia branca e fina entrecortadas por oásis de coquerais, da praia deserta e do mar tépido, há outra coisa que me preenche. As vacas e os burros deambulam entre os Sapiens sem temor. Honestamente, neste momento, sinto-me melhor entre os bovinos do que com os humanos. Faço horários contra-ciclo, tomo caminhos alternativos (perco-me invariavelmente, e isto só tem 5 ruas), só para evitar grandes contactos. Não sei se este estado de espírito se vai manter durante toda a viagem, mas agora só quero Paz e Natureza! Humanos há muitos, ó palerma!


E, ao contrário do que certos cabeças de uretra possam pensar, EU NÃO SOU UM TURISTA SEXUAL!!!

21-10-2006- Jericoacoara

Acordei novamente às 4 da manhã. Credo, o que se passa comigo? Bebi um sumito e saí, subi a uma duna mais afastada do mar e fiquei à espera do Astro, enquanto escutava os ruídos da Natureza. Aprende-se muito a ouvir a Natureza. Por exemplo, nunca tinha reparado que o zurrar do burro se assemelha a um fanhoso a levar no rabo [as coisas que eu digo]
Enfim o Sol chegou, tirei fotos como um japonês, e depois tive que esperar duas horas até que os calões da Calanda (pensão) se decidissem a servir o pequeno almoço.











Pequeno Almoço que enfardei:

- café com leite
- pão com fiambre e queijo
- suco de abacaxi e suco de maracujá
- iogurte natural caseiro
- bolo de chocolate
- panquecas com mel

O Açucar tem formigas? ATÉ AS COMEMOS, CARAGO!!!!



Vou postar aqui este texto do carioca poeta do Amor, Vinícius de Moraes. Já o tinha reproduzido no emérito e moribundo blog ¨ Saudosos do Porco Sujo¨. mas é tão bonito e verdadeiro que nunca é demais.

¨Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor. Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários. De como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, trêmulamente construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os¨



Hoje está um calor de ananazes, como dizia o Eça, ou o Peça, ou outro finado, não interessa. Pela primeira vez desde que cheguei, o vento amainou um pouco. Salvé vento, que criaste estas dunas. São nove da manhã e já não consigo estar na rua. Por um lado, ainda bem, dentro de dois dias vou para Parnaíba, no Estado do Píaui, o mais quente do Brasil. Por isso, é bom que me vá acostumando
Atendendo à canícula, planeio ler o dia inteiro, dormir uma sesta, e lá para o fim da tarde visitar o Atlântico.


Tenho um costume, que partilho com o meu núcleo duro, como gosta de definir o meu amigo Demo Lucífer Mefistófeles de Satanás, vulgo David Valadão (vulgo mesmo, seu porcooooo)
Necessito absolutamente dos meus poisos, um sítio para pendurar o meu chapéu, como desejava o Chatwin. Se gosto fico, e volto.

Em Lisboa é o meu bar, óbvio, e o Opart.

Aqui em Jeri, o Café Brasil, para uma sandocha e um suco, sempre com bossa nova e um ventilador bem em cima da minha cabeça, e ao jantar, o restaurante sabor a lenha, de um ilustre porteño (oriundo de Buenos Aires, cidade de que sinto saudades) , o tal da comida deliciosa e da garçonete bonitinha com um sorriso que ilumina. Não lhe vou perguntar o nome, ainda sai um Maria Creuza ou Edineide e lá se vai o charme.




Os brancos têm um desplante inacreditável!

Escravizaram, dizimaram, humilharam e oprimiram 3/4 do mundo durante séculos, 4/5 se contarmos com as mulheres das suas próprias sociedades. Agora caminham altivos e magnânimos por terem concedido, alegadamente, uma espécie de alforria aos seus ¨protegidos¨ de tez e cultura diferente. E não conseguem entender porque alguns deles ainda os odeiam...

Brancos de Merda! Ainda bem que eu sou mais p'ró acastanhado.




Chego ao quarto depois de uma hora imerso no Oceano. tomo um duche e deito-me na cama, de barriga para baixo, a flutuar novamente, ao som do ¨Street Spirit¨ dos Radiohead.




Acreditem ou não, estavam duas vacas e um bezerro à beira-mar a ver o pôr-do-sol. Tenho fotos que o comprovam.















Estive a observá-las longamente, são tão engraçadas- ¨vaquinha, vaquinha¨, até fiz festas na cabeça de uma.

Agora, no meu Restaurante, acabo de pedir um Filet Mignon mal passado

Sou um Selvagem!


22-10-2006- Jericoacoara
Há um ano!

Entrei no quarto do Hospital. Dormia de boca aberta, ressonava, igualzinho a todos os dias, quando adormecia no sofá a ver TV.

Pensei, ¨ainda bem que está calmo¨. Ficámos à espera que acordásse.

No dia anterior estava lúcido. A Mãe foi visitá-lo, só aí teve verdadeiro conhecimento da gravidade da doença do seu primogénito.
¨ - Então, Mãe?
- Então, filho, como é que vai isso?¨
Ele encolheu os ombros, numa resignação que buscava reconforto. Ela sorriu-lhe, decerto o mesmo sorriso de quando o susteve nos braços a primeira vez, estou seguro que era essa imagem que tinha na cabeça, susbsituíndo a daquele homem debilitado que não mais se ergueria
¨- Isto está muito mau, Mãe!
- Vais-te pôr bom, filho, para irmos para o nosso Algarve, a Mãe trata de ti¨
Ele encolheu novamente os ombros, revelava enfado, ele sabia, ela também, já não fazia sentido dissimular.
- Só tenho pena de não ter podido despedir-me do Gonçalinho, o meu netinho, gosto tanto dele.¨
Eu liquefiz-me. Ela não, é uma mulher de armas, sorriu-lhe novamente, estancou-lhe as lágrimas com autoridade maternal, e disse-lhe ¨Vais-te pôr bom, filho¨, que na verdade significava Vai em Paz.
Ele não entendeu. Virou-lhe a cara, voltaram os olhos de louco e os esgares e trejeitos faciais que nunca lhe tinha visto.
Depois começou a balbuciar coisas incompreensíveis, que logo descobrimos ser linguagem de programação informática. Maldito trabalho, que ele sempre odiou e que o consumiu até ao último suspiro, de tal modo que as suas últimas palavras foram em Pascal, ou Cobol.
Há um ano dormia, como no sofá. Não acordava. Liguei à minha Tia, médica, disse-lhe que estava a dormir bem mas que estava com alguma dificuldade em respirar.Merda- disse ela- vou já para aí! Não compreendi
Entrou uma médica, falou com a minha Tia. Ela chamou-me, agarrou-se ao meu pescoço e explodiu no choro mais violento que alguma vez vi. Afinal o que eu julgava ser sono profundo era coma causado por uma embolia pulmonar, tudo por causa da falência hepática.

Isolei-me dois minutos. O meu irmão aproximou-se para dizer qualquer coisa. Eu, abrupto, disse-lhe: ¨ O Pai não passa desta noite¨. Ele chorou um pouco. Foi tão mais forte que eu, tão carinhoso para ele.

Ficámos os dois, a mulher do meu Pai e a minha Tia com aquele cadáver que ressonava. Nunca imaginei que em coma se ressonasse!

As horas foram passando, a mulher do meu Pai não aguentou ficar à espera do último dos suspiros. compreendo!

Depois, também o meu Irmão se foi, era preciso alguém que fosse dizer à minha Avó e confortá-la. Pedi-lhe que fosse, ele é mais forte. Obrigado, Irmão, assim foi bem mais fácil para mim.Despediu-se dele. beijou-o, acariciou-o, olhou-o com ternura, limpou-lhe o suor da testa e molhou-lhe os lábios com um pano húmido, como tinha feito de forma quase obsessiva ao longo dessa semana. Deu-lhe tanto carinho durante aquela semana. Eu, congelado, não conseguia.Despedires-te assim foi a coisa mais difícil que fizeste na tua vida. Ficar, para mim, foi o mais fácil!


Depois foram 8 horas de espera, de autêntica morte lenta. A noite ía alta, e o silêncio nos Cuidados intensivos era quase absoluto, não fora o ressonar do meu Pai. O ronco foi amainando, convertendo-se num ofegar asmático, agudo e desesperado. mas o desespero era só da máquina, que a Alma já lá não estava.

Deitei-me na cama em frente, fechei os olhos, deixei-me embalar pelo som cadenciado da vida do meu Pai que expiava, mais baixo, mais baixo, até que parou, e soou o silvido da máquina de ECG, anunciando a hora de saída da Fábrica dos Sonhos, que para ti, há muito que já não o era.
Éram 6 da manhã. A tua Máquina parou! Olhei-te! Ainda dormias no sofá.







Depois foi o funeral. No Algarve, na Igreja de S. Lourenço, em Almancil.



O Corpo foi trasladado de Santa Maria para lá. Preço do funeral, num caixão simples e com transporte para Jazigo, 6.000 euros. Inaceitável...



Entrei na sala onde decorria o velório. Caixão aberto. Ele estava lívido, já não era bem ele, mas uma figura de cera que o representava.



Estava numa espécie de pavilhão contíguo à Igreja. entrei na casa de banho. estava a tampa do caixão depositada ao lado da sanita! Passei-me da cabeça, só não me alterquei ali mesmo com o Padre por respeito à minha Avó.



A história já vinha de trás. Em 2000, no funeral do meu Avô, o padre atrasou a missa de corpo presente umas cinco horas para poder sugar dinheiro aos turistas que visitavam a igreja, cuja capela é totalmente forrada por painéis de azulejos que relatam o martírio desse tal de S. Lourenço.



Para além disso, como viu que nem eu nem o meu irmão nos benzíamos nem rezávamos, no final da missa cumprimentou-nos com sobranceria, de cara voltada para o lado. Ficou, logo aí, nas minhas boas graças.



No Funeral do meu Pai, para além de não se ter dignado a cumprimentar-nos, teve ainda a coragem de passar por nós em autêntica galhofa com o sacristão. E juntou a suposta missa de corpo presente com a eucaristia regular, pretendendo que deixássemos o corpo do meu Pai abandonado no tal pavilhão onde estava velado. Claro que não fomos, foi só a minha Avó, que curiosamente deve ser a pessoa de Almancil que mais enche o cu de dinheiro àquele vaidoso.



Para cúmulo, a meio da missa veio o funcionário dele ao local do velório, foi buscar a tampa do caixão à sanita, e preparava-se para selá-lo, eram ordens do Padre, disse ele. Ou seja, a minha Avó ficaria privada de ver o rosto do filho uma última vez. Obviamente, impedímo-lo.



Nunca bati em ninguém [só no meu irmão, mas ele gostava], mas senti uma vontade enorme de enfiar a mão no focinho daquele hipócrita vestido de mulher. Não fiz nada a pedido da minha Avó, mas busquei sempre os seus olhos para confrontá-lo com o ódio que cintilava nos meus. E, enquanto dizia as últimas baboseiras à entrada do Jazigo, pus-me à frenete dele e entoei repetidamente e em surdina CABRÃO! Não sei se me leu correctamente os lábios, mas o certo é que se escapuliu à primeira oportunidade.



Um dia em que a minha Avó se vá, ajustaremos contas, cabrão. Eu até tenho uma especial predilecção por padrecos e uma visão muito particular sobre o papel da igreja católica (letra grande uma ova) na formação da nossa sociedade machista, racista e castradora.



De facto, mataram milhões de pessoas nas fogueiras, a maioria mulheres, tendo estrangulado o papel potencialmente apaziguador e conciliador do pensamento feminino, que poderia ter sido um contrapeso efectivo face ao belicismo testoesterónico; impediram a miscegenização de povos e culturas; patrocinaram cruzadas e expansionismos sanguinários; aplaudiram a escravatura; ignoraram o holocausto; e muitos etcs...



E ainda pretendem servir como referência moral?



O juízo final chegará, mas o vosso, seus eunucos usurários, que instrumentalizaram o medo da morte para servir propósitos imperialistas e classistas, foram e são ilhas de riqueza em Oceanos de miséria humana.



O caricato é que lograram tudo isto pregando a palavra de um grande filósofo palestino, pervertendo torpemente tudo o que tentou ensinar.



Fico chateado, concerteza que fico chateado...







Já agora, deixo aqui a história desse tal S. Lourenço. Sei por alto, mas parece que o Sr. foi martirizado pelos sarracenos, que queriam que renegasse a sua religião, tendo-o para isso amarrado num espeto, fazendo churrasquinho dele. O Sr, quando instado para renegar o seu Deus, terá replicado que daquele lado já estava assado e que o podiam virar.



Que bela história de catequese... Decerto será o Santo Padroeiro do Bondage!







Isto lembra-me de outra história, daquela que terá sido, talvez, a morte mais horrenda de sempre.



Vlad, o empalador ( o da Transilvânia, que inspirou, a lenda do drácula, não o meu antigo sofá, conforme o epitetavam os meus excelsos amigos) conseguiu capturar o seu inimigo figadal, que aspirava usurpar o seu condado.



Que iria o bom do Vlad fazer? empalá-lo não era suficiente, fazia isso várias vezes ao dia, já não havia aquela adrenalina...



Então, mandou construir um trono em ferro forjado, mandou aquecê-lo até que ficasse em brasa, manietou o usurpador, sentou-o lá para que fosse cozinhando lentamente, e então ordenou que caíssem sobre ele os vários servos que tinha há vários dias confinados sem comida.




Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!










Agora que o Gigollo Demo anunciou, nos comentários deste pasquim, a sua saída de cena do mercado grossista feminino, estou a ponderar tomar o seu lugar. Passarei a ser conhecido como Dr. Looooove Provider, assim mesmo, Loooooove, com voz gutural, à Barry White, Issac Hayes ou mesmo João Malheiro.



Meninas, recebo reservas, até faço grupos, só não aceito festas de crianças!










A propósito de nomes, quando me fui inscrever na ordem dos advogados, quis adoptar como nome profissional José Pedro Sousa. Não foi possível, já existia um, tive que trocar por Araújo.



No final do ano passado, num programa da TSF sobre depressões clínicas, a locutora anunciou: ¨ José Pedro Sousa, advogado, trinta e tal anos, de Lisboa, há dois anos mergulhounum estado de depresão profunda (...)¨



Foi o primeiro sinal!








A zona que medeia o fundo das costas e o topo das coxas das cidadãs Brasileiras devia ser um case study de Anatomia Humana.


Ou até mesmo servir de base a uma nova ciência, a Bundologia. Claro que alguns visionários avançariam de imediato para uma Bundologia Aplicada, sendo também certo que os Marxistas preconizariam uma Bundologia social.



Se Lisboa, Paris e Buenos Aires são os locais onde achei as mulheres mais bonitas e estilosas, em termos de corpo... BRASIL É PENTA!!!!





Hoje escrevi para cacete! já me despedi de Jeri,






até breve!

parto amanhã de manhã, pela praia, de jipe até Camocim e de Van (nem sei o que me espera), até Parnaíba.



Lagartos e Tripeiros, é só ganhar ao Belém e colámos em vocês. Agora é só despedir aquele pacóvio derrotista com cabelo de alcatifa e está no papo...















23-10-2006- Jericoacoara-Camocim-Parnaíba

Viagem Jeri-Camocim: 6:30 da manhã. Toyota 4WD dos anos 70. Transporte Público. Lotação, 18 pessoas. 7 nos bancos dianteiros, 8 na caixa com bancos laterais, onde eu estava ( o meu coccis ficou em pó), 1 pendurado na porta da caixa e 2 em cima do tejadilho junto com as bagagens. Só faltavam as galinhas e os porcos para o cenário ficar completo.






Percurso: uns cinquenta quilometros pela Praia deserta ladeada de dunas e mangueirais até chegar a uma lagoa que cruzámos de balsa. Depois picada, mais praia e outra balsa até chegar a Camocim, vila pescatória com um mercado trepidante, no qual circulam ciclistas com altifalantes incorporados nas bicicletas, vociferando todo o tipo de anuncios publicitários.
Fez-me recordar o ¨Ónibus da Sucata¨, que circulava pelas ruas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, berrando pelo altifalantes ¨este é o ónibus da sucata, compramos toda a sua sucata(...)¨

O dito ónibus, que em si mesmo era uma sucata, rebentava pelas costuras com todo o tipo de ferro velho, desde máquinas de lavar a pneus.
Chegado a Camocim esperei duas horas para que uma Toyota Hiace fizesse os 150 Km até Parnaíba. Era uma carrinha normal, com cinco fileiras de assentos, incluindo a do condutor. Lotação normal, 14 pessoas. foram 24!
Recebi uma mensagem da minha menina linda Bertini. Imaginei-a naquela Hiace... Os gritos de raiva dela ecoariam na Patagónia.
No decurso da viagem, parámos numa terra chamada Chaval, já no Estado do Piauí, para o motorista ir buscar uma encomenda. Aproveitei e saí para ir fumar um cigarro. Então, fui picado por algo na perna, uma dor a roçar o lancinante, daquelas que arrepiam as patilhas e os pelos do cu de quem os tem.
Espero que tenha sido uma vespa, ou algo parecido ( se acordar durante a noite com o barulho da perna a rolar no chão do quarto, já sei o que foi). Em todo o caso, se estivesse em casa, teria feito um fita tremenda. Em Chaval, estado do Piaui, fazer o que? Mordi o lábio, voltei para a Hiace super-lotada e comprimi uma moeda de 25 centavos contra a zona da picada...
Cheguei a Parnaíba às três da tarde. Depositei a tralha no Hotel e fui passear. calor de inferno. Procurei excursões para o dia seguinte para o famoso Delta. Nada, só se for com grupos e na época baixa não tem ninguém. Merda!!! Vou tentar amanhã de manhã e se não der vou fugir daqui. É que acho que vi por aí algures as botas do judas...


O Hotel Cívico de Parnaíba, onde estou, aconselhado pela Biblía (Avé Lonely Planet), é também muito bonito, apesar de estar em nítida decadência.
Tem uma arquitectura e decoração típica dos anos 70, a fazer lembrar a Marina de Vilamoura dos bons tempos , tem uma zona de piscina muito agradável e os quartos têm cortinas em napa e tecto falso em madeira cor de carvalho, com focos encastrados, very nice!
É um pouco caro, (30 euros noite), mas vale a pena. os quartos de hotel feios deprimem-me, e os sujos dão-me vontade de morrer. Até gostava de ser mais freak, mas tenho este impulso de estar à patrão. E de chungueira já bastou a viagem de hoje!


Os meus companheiros de copa do Bar sabem que aguento o Vodka como um submarinista soviético. No entanto, uma caipiroska aqui deixa-me logo com um grão na asa. Deve ser do vodka nacional, de marca Orloff, que servem aqui ( hoje vi um anúncio pintado numa parede ao vodka Roskoff, não estou a brincar). Cheira-me que deve ser cachaça com umas gotinhas de querosene e um toque de água de colónia de Badajoz...


Acho que os Brasileiros ainda não entenderam que a função primordial de um ar condicionado é arrefecer o ambiente, e não imitar o barulho do motor de uma SIS Sachs.


Estou de Parabéns!
Consegui matar uma barata que subia a parede oposta à cama onde estou deitado a uma distância de três metros com uma garrafa de àgua. Ainda levantei os braços a fazer o V de vitória, mas não havia ninguém para aplaudir....


Por último, gostaria de solicitar à grande maioria dos meus amigos que se dignassem comentar neste pasquim, uma vez que essa foi uma das principais razões pela qual eu o criei. Ou será que vocês olham para o blog e dizem ¨ xiiiiiiiiiiii patrão, tanta letrinnha piquinininha¨



24-10-2006- Delta do Parnaíba.

Pois é, afinal consegui uma excursão pelo Delta, não o de Vénus, mas o de Parnaíba. Estou num café à espera, a ouvir a música que hoje em dia rola neste País, que me parece sempre um preliminar para a corrente de fé e unção com óleo ministrada pelo Pastor Dirceu no templo.
O nome da banda que discorre cantigas delico-doces de amor/sexo/traição/cíumes é... calcinha preta!!!
Excerto de uma letra:
¨ Amor, não te divido com ninguém
essa história de harém não dá
NÃO DÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ
Eu te amo de paixão
mas comigo harém não rola não!!¨
Ninguém o pode culpar por tentar....
Na localidade de Tatu, aldeiazinha de pescadores onde espero o barco para me transportar pelo delta, surge a saltitar um veadinho rodando a bolsinha, com as calças de ganga justas enfiadas dentro do rabo e lencinho na cabeça, a arrastar a asa aos pescadores.
Passeio num barquinho de madeira que parece de brinquedo pelo Mangue até à Ilha das Canárias, no coração do Delta, na companhia de um casal de italianos, de um Americano/ brasileiro de uma francesa, e de dois irmãos, ele conduz o barco e ela serve de guia. Todos muito simpáticos, tranquilidade e boa vibração absoluta.










O Americano Brazuca e a Francesa foram as primeiras pessoas relamente interessantes que conheci na viagem. Ele, Daniel, vivia em S. Francisco, foi para S. Paulo, que naturalmente detesta, e está a viajar pelo Brasil em busca de um novo lar, como o próprio disse.
Ela, Marie, de Paris, veio viver para o Rio de Janeiro com o marido, mas como não tem visto de trabalho, vai viajando pelo país. Vida dura. Estava com o Daniel, que conheceu na viagem. Não sei se aquilo com o marido é relação aberta ou se tem chifre no pedaço. Pouco me importa, isso é lá com ela.
O Certo é que gostei bastante dos dois, se não estívessemos a fazer o percurso oposto ( eles lençois-jeri, eu jeri-lençois), até passaria algum tempo com eles.
Só um aparte, adoro ouvir uma francesa a falarrr porrrrtugues. Não é bem um fetiche, mas é definitivamente um turn on. Contrariamente, é um Turn off a voz anasalada de uma andalusa ou uma italiana a falar inglês, que parece estar sempre a dizer ¨ I'll make him an offer he can't refuse¨ ou ¨ Luca Brazi is sleeping with the fish¨
Almoço no restaurante ¨recanto dos passaros¨, na ilha das canárias, que já pertence ao estado do maranhão, com os meus companheiros de viagem, muito bom. Estava só um senhor a cozinhar e a atender-nos, eramos os únicos clientes. até nos trouxe um sininho para chamár-lo quando fosse necessário. Perguntei-lhe se estava sozinho no Restaurante. respondeu-me, com toda a tristeza do mundo nos olhos, que a mulher estava viajando... percebi, apeteceu-me abraçá-lo!
Comi peixe delicioso (era esse mesmo o nome do prato). postas de robalo grelhadas com molho de camarão e banana frita. É impossível descrever o quanto estava bom.
[ um dos pratos da ementa era camarão alho e OLHO!!! tinha traduçaõ em inglês, shrimp with garlic and EYE!!!!!]


Para não me tornar repetitivo, abstenho-me de referir que o passeio foi lindo, maravilhoso, inesquecível, barquinho pelo mangue, rio, praia e dunas, e em excelente companhia .











Enfim, foi um dia bem passado elevado à máxima potência.


Amanhã vai começar o meu périplo pelas santas terrinhas que circundam o parque nacional dos lençois maranhenses, Tutóia, Paulino Neves, Barreirinhas e Atins. não sei se vou ter Net:(


O meu dia terminou com muita emoção e adrenalina.
Estava a ir do bar do hotel para o quarto quando eu e um empregado fomos perseguidos no corredor por um morcego enorme, que fazia investidas sobre as nossas cabeças. foi um festival de ¨caralhos¨ com e sem sotaque. Fugi para o quarto em passo acelerado e com o rabinho mais apertadinho que o soutien da Ana Malhoa.
Fui à casa de banho, matei uma barata (uma por dia dá saúde e alegria) e fui fazer o que há uma semana não fazia, ver TV.



25-10-2006- Parnaíba-Tutóia-Paulino Neves

Ónibus em direcção a Tutóia, onde tenho que ir para tentar arranjar transportes rumo a Barreirinhas ou Paulino Neves, que são as portas de acesso ao Parque Nacional dos Lençois Maranhenses. Viagem de duas horas e meia.

Comecei por ouvir o It's Alive de Ramones, dava um testículo para ter estado naquele concerto. Depois passei para Prodigy, já não ouvia há decádas, soube-me bem. Agora estou em Skazi, que para quem não sabe é trance pica-miolos. Eu gosto, e depois???

Em todo o caso, tenho que acalmar, estou a ir para a santa terrinha.

Cheguei a Tutóia, o Onibus parou. Perguntei como ía para a pousada onde me podiam dar informações sobre o transporte.

¨Ele te leva¨, disseram-me, apontando para um tipo em cima de uma espécie de DT. E lá fui, eu que me pelo de medo de motas, à pendura com a minha mala de 15 quilos em cima do joelho. Fomos a dez à hora, mas ainda assim tremia que nem varas verdes.

Cheguei à Pousada. Um sítio indescritível, pardieiro dos antigos, a fazer lembrar um qualquer motel de beira de estrada em Vilar Formoso, onde os camionistas levam as meninas. Estou a rezar para que me arranjem um carro, senão vou ter que ficar aqui mesmo...

Ufa.... ao fim de três horas de espera, lá consegui alguém que me levasse a Paulino
Neves. Um Land Cruiser com caixa; preço para viajar 100 km, 5 Reais, menos de 2 euros.


Em Tutóia, a Farmácia é também agência do Banco do Brasil, e o cemitério tem o nome pomposo de ¨ Cemitério da Igualdade¨

Em Parnaíba disseram-me que Paulino Neves, que também se chama Rio Novo, é um sítio peculiar, porque apesar de pequeno, tem uma considerável percentagem de cidadãos homosexuais. Há quem pense que tem a ver com a água do rio. Conforme me disse um Pescador da Aldeia de Tatu, ¨têm machão de pelo na costa que entra no Rio e já sai rodando a bolsinha¨.

Eu não tenho pêlos nas costas, para minha felicidade e prejuízo das depiladoras a laser. Por isso, naquele rio não molho nem os pezinhos. Aos 31 anos já é muito tarde para mudar de time.

Cartaz no caminho para Paulino Neves:

A POPULAÇÃO AVISA:
ANTES DE ENTRAR NESTE POVOADO
TIRE O SEU CAPACETE
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Este País é pródigo neste tipo de advertências inconcebíveis. Por exemplo, em Abril passado, quando fazia a viagem de autocarro entre Foz do Iguaçu e Curitiba, começaram a surgir inúmeros placares na BR (estrada nacional) a avisar ¨ ATENÇÃO, RESERVA INDÍGENA¨.
Chegados à dita reserva cruzada pela estrada, os cartazes passaram a ser ¨ ATENÇÃO, INDÍGENA NA ESTRADA¨, havendo mesmo aquele sinais triangulares de perigo com o veado ou a vaca substituídos por um indiozinho de pena na cabeça¨
Já antes, quando comprava o bilhete para essa viagem, deparei-me com dois avisos afixados na bilheteira:
¨ Todo o objecto transportado do paraguai é, à partida, considerado contrabando, até prova em contrário¨ e ¨ PROIBIDO LEVAR CIGARRO E PNEU¨
Já em Curitiba, numa pizzaria, a seguinte advertência ¨ Não emprestamos revistas. É favor não insistir.¨
E muitos mais que memória não guardou e na altura não havia moleskines nem blogs. É pena, porque uma das coisas que mais gosto neste país são estes pequenos detalhes que me deliciam.
A viagem: 2 horas em estrada de areia, por fileiras intermináveis de casas paupérrimas, todas elas cheias de crianças com quase 100% de sangue Indío. Fui sozinho na caixa do dito Land cruiser, ora batia com a cabeça no toldo\tejadilho em Madeira, ora esmagava o perineu contra o Banco.


Enfim, cheguei a Paulino Neves, fui directo à Pousada da Dona Mazé, que me tinham aconselhado em Tutóia. Pousada modesta, mas... basta-me dizer que tem um Rio com cerca de metade da largura do Douro a correr no quintal das traseiras.






De resto, tranquilidade absoluta, Comme Il faut!


26-10-2006- Paulino Neves- Barreirinhas

Acordei antes das 5 da manhã, com o cantar de dezenas, senão centenas de galos, cujo chamado se mesclava num ulular fantasmagórico
Saí do quarto para iniciar a minha primeira caminhada entre os Lençois Maranhenses, mais concretamente na zona que chamam pequenos lençois. Paulino Neves é o único povoado onde é possível aceder a pé às dunas.
Andei uns 2 km pela vila deserta até que vi um Oceano de Dunas, como o das fotos que impulsionaram a minha viagem. Lindo, com a luz difusa do Sol que despontava.







Comecei a trepar o areal que parecia fumegar pela acção do vento sobre a areia branca e fina. Ao chegar a uma duna mais alta, fiquei com a Vila nas minhas costas, uma lagoa à minha esquerda, um mar de dunas à direita e uma ria seguida de Praia pela frente.
Avancei até à planicíe de pasto que me separava da orla marítima. Andei pelo meio das vaquinhas (muuuuuu!!!), das cabrinhas (mééééééé), dos cavalinhos (rinch brrrrrr) e dos fanhosos a levar no rabo (hon hon hon hon hon hon hon). Não sem receio, diga-se, porque eu, como bom city boy, não sei muito das reacções destes animais. mas sobrevivi!






Cheguei á Ria e andei por uma língua de areia que a cortava a meio, sem no entanto chegar à praia, que, se não era virgem, pelo menos não deve ter visto muita pila. Já não tive coragem de contornar a Ria para aceder à Praia, já tinha caminhado uns km e ainda tinha que regressar à Pousada. Já foi muito bom assim.
Depois foi tomar o café da manhã, ler, deitado na rede, falar um pouco com a Dona Mazé da Pousada, uma velhinha muito simpática e que exala uma tranquilidade sábia, e depois embarcar em mais uma viagem esmaga-coccis até Barreirinhas, mais 2.30 na traseira de um Land Cruiser.
Quanto à viagem, nada de especial a registar. Acompanharam-me 2 nativos, um casal de brazucas freaks com expositor de brincos e pulseirinhas e tudo, um casal de americanos de S. Francisco, um Casal de Israelitas de Tel Aviv e dois Pilotos da Iberia Madrilenhos.
Estes últimos fizeram-me inveja, pois desceram desde Quito, no Equador pelo Peru até à Amazônia.
Cheguei a Barreirinhas e instalei-me na Pousada Lins. Biblia Lonelius Planetus dixit, ego facet (já não me lembro das declinações latinas, pensando bem acho que nunca as soube). Mais uma vez estou à patrão. Podia pagar 10 ou até 5 Euros por um quarto, mas pagando 20 tenho piscina, rede, casa de banho grande, silêncio e paz, sempre que tal me permitem as carrinhas da campanha eleitoral, que correm desembestadas todas as localidades do Brasil em busca do ultimo votinho.
Amanhã vou aos Lençois Maranhenses propriamente ditos, a outra Lagoa Azul. Será desta, Brooke? Ainda mais agora que a minha cunhada me informou, com base nas suas leituras de Jornalista de respeito, como a Gina e a Ana + atrevida, que deixaste o gajo das raquetes?
Sábado vou fazer outro passeio, a Caburé, e Domingo zarpo daqui em direcção a Santo Amaro.


Entretanto, prossigo a minha Maratona literária, ¨ Viva o Povo Brasileiro¨, 673 páginas, A5, letra pequena, já li 450.
Versa sobre a génese deste País, de forma romanesca e exemplarmente bem escrita, sobre como ele foi erigido pelos nossos brutos antepassados à custa do sangue, suor e lágrimas de milhões de negros, explorados, humilhados, tratados abaixo dos animais, sendo que estes têm a benção de não inteligir.
Perdão, Irmãos, e obrigado por não descarregarem sobre nós a cruel vingança que merecemos.
Toda a gente fala do holocausto, mas a escravatura terá dizimado ainda mais gente, depauperando ainda mais o continente africano, já de si tão inóspito.
São coisas do passado, dirão alguns. 100 anos, atendendo às sevícias a que foram sujeitos, não é passado, são os nossos bisavós e os deles!


Hoje dei uma queda aparatosa no centro de Barreirinhas. O meu chinelo prendeu-se num ferro espetado no chão e caí para a frente. Valeram-me o Hoquei e o judo, que me ensinaram a cair instintivamente sem me magoar.
Curiosamente, apesar de a rua estar cheia e de ter inclusive soltado um UFFF sonoro, aparentemente ninguém viu. YES!!!! Ainda bem, está calor demais para corar...
Mazelas: um fio de sangue a correr de debaixo da unha do pé (Mãe, já pus betadine e um penso) e uma amolgadela na lombada do Moleskine,].


Finalmente a Lua começa a despontar! Estava a ficar farto das noites escuras, faltava este elemento essencial, o Luar.
Bebi uma caipiroska numa esplanada sobre o Rio Preguiças, em Barreirinhas, a fazer tempo para que fosse uma hora decente para jantar. Não é que não tivesse fome, mas eram !8:15, e isto de ter horários de reformado inglês no Algarve de sandalinha e meia branca tem que acabar!
Os meus companheiros de viagem, excepto os nativos e os freaks, estavam na mesa ao lado, e convidaram-me para juntar-me a eles. Fui, que remédio, estava um pouco relutante porque isto das relações sociais pode tornar-se absorvente, e não me quero desviar muito dos meus planos. Para além disso, não tinha simpatizado muito com eles.
Mas enganei-me rotundamente, passei uma noite muito agradável, sobretudo com os americanos e os espanhóis, pessoas interessantíssimas, que viajam pelos sítios mais incríveis e me fazem sentir como um menino que está a atravessar a rua sozinho pela primeira vez. Um esteve três meses em Madagascar, outro fez uma digressão pelo Senegal a tocar com uma banda de Reggae Local e tal e tal e tal.
Mas pessoas simples e abertas, que aparentemente gostaram de mim, já que me convidam para tudo e mais alguma coisa, precisamente o que eu não queria, mas logo se verá.
Mas enfim, é para aprender a não julgar as pessoas pela 1ª impressão. passámos a noite a beber cervejas de lata, a conversar e a ouvir os americanos cantar, tocar guitarra e harmónica, desde Folk a música Guatemalteca de raíz sandinista, passando por Neil Young. muito COOOOLL!


27-10-2006- Barreirinhas- Lagoa da Preguiça- Lagoa Esmeralda- Lagoa Azul- Lagoa do Peixe- Barreirinhas.

Pois é, hoje descobri um novo patamar de beleza natural. É inacreditável, não há fotos que lhe façam justiça. Fiordes de água da chuva cruzando dunas de areia branca como neve, que ganham uma luminosidade cósmica por acção dos raios solares.





















Nem me vou alongar muito, só vendo mesmo. Estou sempre a dizer que tudo é maravilhoso, mas que posso fazer, é mesmo, não vou mentir.

E estes Lençois, junto com as cataratas do Iguaçu e com o céu da savana de Masai Mara, no Quénia, são talvez os pedaços de Natureza mais bonitos que já vi na minha vida.

Quanto à viagem, fui na companhia de uns cotas brasileiros tontos, de uma paulista de meia idade que ainda pensou que sim comigo, mas fiz-lhe logo ver que não, de um velhote de oitenta e tal anos cheio de genica e de piada, da mulher dele, de metade da idade, mas que se desdobrava em cuidados com o seu Juju, velho gaiteiro, e da sobrinha deles.

Esta última, com vinte e poucos anos, bigode farfalhudo e verruga no queixo, ficou encantada com este vosso selvagem, e dengosa, dizia ¨ Português, vem para a água, vem¨ e ¨ Portugal é uma cidade bonita, é?¨ e fazia-me festas nas costas quando me apanhava desprevenido.

Já não há respeito!!! Só me saem duques!

Claro que, no regresso das lagoas, tive que acartar com o velho pelo areal, eu e o guia. coitado do homem, mas ainda foi lá. Respect!

Gosto de Barreirinhas, apesar de ser meio turístico, tem bastante vida, as pessoas são simpáticas e as meninas que servem nos cafes e restaurantes sorriem. Nos sítios em que estive antes, excepto Jeri, notei um certo pudor que se convolava em antipatia, o que decerto provém de serem meios pequenos e fechados. Em todo o caso, estava a ficar um pouco despontado com isso. Mas aqui não, e isso é bom, é sempre agradável ver um brilhozinho nos olhos.

É incrível o número de crianças e adolescentes que existem em todos os cantos deste país. Assim tem que ter futuro, Brasil!!!

Em cada casinha de tijolo, nos sítios mais ermos, nas janelinhas ou nos quintais espreita sempre uma criança, geralmente meninas, lindas, quase indiazinhas, de longos cabelos, parecendo obviar a languidez que as circunda submergindo nos seus universos pensados e, sobretudo, brincados.

Acredito que vem daí a felicidade deste povo, que aprendeu a estreitar o mundo, à custa de muitas agruras que reputa acessórias em face da dança em que se deixa envolver, não com inocência ou ingenuidade, mas com uma placidez sábia, não escolástica, mas elementar.

Provavelmente, romantizo em demasia. Pouco me importa, este é o meu Brasil, e as generalizações são sempre desviantes.

Se um dia tiver filhos (brrr, que arrepio na espinha), gostava tanto que fossem meninas. Se for macho, ponho no E-Bay!

Esta terra está infestada de morcegos. Deve ser o único bicho que rivaliza com as ratazanas na minha escala de fobias.

Tinha combinado jantar com os meus amigos transitórios, mas estou sem muita pachorra. vim para a minha mesa da minha esplanada beber uma caipiroska de maracujá e comer umas patinhas de caranguejo à milanesa com molho rosa. depois acho que me vou escapulir para o quarto, estou quase a terminar o meu livrão, e estou curioso.

Amanhã ganhamos aos tripeiros e ficamos em PRIMEIRO!!!!!!!!!! OU NÃO, MAS QUASE...


28-10-2006- Barreirinhas-Vassouras-Mandacaru-Caburé-Barreirinhas

Em primeiro lugar, queria deixar bem claro que, até a milhares de quilómetros de distância, O BENFICA METE-ME NOJO! Como é possível, a acreditar pelo que li na ¨ Bola¨, sofrer um golo de um lançamento de linha lateral depois de ter dado a volta ao resultado.

QUE ÓDIO!!!!!!

Hoje fui despertado, não por galos, mas pelas inúmeras e frenéticas chamadas telefónicas feitas pelo dono da pousada à porta do meu quarto, a convocar eleitores para seguirem amanhã para Barreirinhas no autocarro que ele fez fretar. A política é mesmo um nojo...

Houve aqui um escândalo político, porque a campanha do Alckmin, candidato do PSDB à presidência, produziu como artigo de merchandising umas mãos esquerdas em cartão com 4 dedos, imitando a mão de Lula, que perdeu um dedo na sua profissão de torneiro mecânico.
Sei de fonte segura que, se perder mais um dedo, Lula converter-se-á num polvo.
4. Amanhã eleições. O Calamar já ganhou.
Aqui há votação electrónica, a populaça tem que marcar um número numa maquineta para decidir em quem votar.
Na eleição para o Governo do Maranhão, são candidatos a filha de José Sarney,(ex-presidente brasileiro) Roseanna Sarney, que é o número 25, e um tal de Jackson, que é o 12.
Então, em termos de Marketing político, não há que enganar. A música da Roseanna, que berra estridente por todos os cantos deste Estado, é :
¨ é 25 é 25 é 25 é 25 é 25 é 25 é 25 é 25¨
Já a do Jackson é ¨ 12 12 12 12 12 12 12 12¨
Todo ao som do Forró, claro, que não toca mais nada nesta terra
Enfim, num país de analfabetos, há que apelar aos que, pelo menos, sabem contar.
Não sei se já disse, mas a política é um nojo.


Hoje vivi um momento de grande infelicidade. fui fazer um passeio de lancha pelo Rio Preguiça, muito bonito. destino, uma terra chamada Vassouras e outra chamada Caburé. Vassouras, onde um Mar de Dunas Amarelas confronta com o Rio e com um pequeno bosque onde vivem os macaquinhos mais engraçados que eu já vi, parecem pessoas em ponto pequeno, (tipo o meu Irmão Didi)
















Depois, aconteceu a tragédia.




Ao entrar no barco ouvi um ¨splash¨ Olhei, e vi um fiozinho a boiar, pensei que fosse o resto de uma rede de pesca. WRONG! Era a máquina fotográfica da Ana, tinha caido de uma nesga da mochila aberta! Calma, respira. Após 4 horas sem funcionar, quando cheguei à Pousada já consegui ligá-la. agora vou-lhe dar descanso e logo se verá. Senão funcionar, lá me meti em prejuízo.
E lá continuei o passeio, meio em depressão. fui a uma terra chamada Mandacaru, onde há um farol com uma visão 360° sobre a zona dos pequenos lençois ( E eu sem máquina)
Depois Caburé, uma península entre o Rio Preguiça e uma praia deserta, muito bonita. O Mar, um caldinho turbulento, uma espécie de canja de galinha com tabasco.
Quanto á companhia, fui com duas ¨coroas¨, uma paulista e outra carioca. A paulista era um pouco frívola, mas simpática. A carioca, uma gordinha bonita a roçar os 50 anos, era cheia de pelo na venta, não como a idiota do dia anterior, mas no sentido figurado.
Foi fixe.
O jantar, na esplanada do costume, foi frugal, ao contrário do almoço, Peixada à Maranhense. Comi só uns cubinhos de queijo com azeitonas e palmito, enquanto escutava o doce chacoalhar da minha caipiroska de maracujá no Shaker.
No fim do Jantar, o neguinho camareiro perguntou-me se eu era investigador, cientista ou professor, porque me via sempre a ler ou a escrever.
Estou indeciso, não sei se amanhã vou para S. Luís, capital do Maranhão, ou Santo Amaro, santa terrinha onde a electricidade termina às dez da noite. Vai depender do lado para que acordar virado amanhã, e isso é tão bom!!!


29-10- Barreirinhas- S. Luís do Maranhão

A política é mesmo um nojo (parte 3)

A tal Roseanna Sarney, apoiada pelo grande educador da classe operária, Lula, foi a uma culto da I.U.R.D. receber o apoio directo do líder nacional daquela horde de extortores. Até o Pai dela, o ex-presidente José Sarney, esteve presente na sessão, dizendo coisas como ¨ maldito o homem que não acredita em Deus¨

QUE ASCO!!!

È com declarações destas que uma pessoa arranja Sarney para se coçar.

Acordei virado para Este, por isso vou para S. Luís. Quero sentir a noite eleitoral no meio da civilização. Vou ficar no Hotel ¨Portas da Amazónia¨.
É um bom prenúncio!

Despeço-me de Barreirinhas sob os primeiros pingos de chuva desta viagem. Sei que um dia vou voltar para partilhar o tesouro que são os Lençois com alguém (estar comigo nos lençois é sempre um tesouro!!)

O autocarro para S. Luís vai parando nos sítios onde decorre a votação, depositando os eleitores dos povoados vizinhos.

Apercebo-me que uma das coligações concorrentes no Estado se chama Frente de Libertação do Maranhão. Também não era preciso dramatizar tanto...

Pára em todas as estações e apeadeiros, e ainda por cima esqueci-me de carregar o Ipod, por isso tenho que gramar com a música evangélica, só Deus, Amor, Paz e alegria, com baixo, bateria e até solos de guitarra, que soa a altos berros neste onibus maldito. O dito Autopullman tem escrito na lateral ¨Deus é Fiel¨. Dá-me logo vontade de dizer ¨ dá a patinha, Deus¨, ¨ Anda, Deus, vai buscar o pau¨ ou ¨ senta, Deus, senta. Good God¨

Ok, este está a ser o ponto mais baixo desta viagem, ainda pior que deixar cair a camara ao rio. Há 4 horas que estou a ouvir as mesmas seis músicas evangélicas. BASTA!!! PELAMORDEDEUS!!! Ops, isso não. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!

Cheguei a S. Luís. Que cidade tão linda, amor à primeira vista, um misto de Lisboa com aldeia alentejana e beirã, espraiada sobre um um Rio/ Mar multicolorido, que seca quase 50% ao fim da tarde. I think i'm in LOOOOVEEEE! Por alguma razão é património mundial da UNESCO. (fotos gentilmente cedidas por uma amiga)























A pousada Portas da Amazônia é excelente, uma casa colonial restaurada, rústico mas com extremo bom gosto. Definitivamente, vou gostar de estar aqui...

Cheguei à Pousada e na Internet estava o meu amigo Piloto da Iberia. Fiquei muito contente, porque não tinha ficado com o contacto deles,e provavelmente não os veria mais. fomos ter com o outro piloto, bebemos uma cervejinha numa praçinha muito barcelona style, a ouvir um reggae, e encontrámos os Americanos e os Israelitas. o grupinho juntou-se outra vez. Ainda bem, naquele momento estava com vontade.

Decidimos ir a uma festa reggae que havia numa praia. os dois casais foram andando e eu e os espanhóis fomos mais tarde. fomos de Táxi até à Praia e, chegados lá, perguntámos se havia por ali algum restaurante. Estávamos os três com o estômago colado às costas de fome, diga-se. O motorista, para não destoar da corrupção transfronteiriça que caracteriza a sua classe profissional (eu diria mesmo espécie infra-humana), disse-nos que não, que ali não havia nada, e que para nos levar a um tinhámos que pagar mais. Dissemos que não e saímos do carro, já conformados com a ideia de comer um rotidogui (hot dog).

Andámos alguns passos desanimados, quando, à Beira-Rio plantado, vislumbro um restaurante japonês. quase me vieram as lágrimas aos olhos, eu e o Joan até nos abraçámos, porque os dois veneramos a gastronomia kamikaze.

E lá comemos um barquinho de 45 peças com duas caipirinhas de saké cada um :p, 12 euros por cabeça. ARIGATO!

Entretanto, a festa era rija, o Jackson ganhou É 12 É 12 É 12. Bem feita para a sarneynta, poque, segundo me disseram, há decádas que a família dela é hegemónica no Maranhão,e, apesar de ser apoiada pelo molusculo cefalópode, é mais de direita que o Jackson. Por isso, VIVA O 12!!!!

Depois de jantar, lá arrancámos para a festa Reggae. Mal chego, aproxima-se de mim uma neguinha muito bonita, grandes tranças, via-se que era a dona do pedaço, e diz-me ¨ Comé, gato, vem dançar um reggaezinho bem gostoso comigo?¨ ao que eu respondi ¨¨ Não, agora não, obrigado¨

O rosto dela transfigurou-se de uma maneira que devia ter sido filmado. Se não era a primeira nega que ela levava na vida, não andava longe disso.¨

¨ Não?-disse- mas não porquê?¨

¨Porque acabei de chegar e agora não me apetece, talvez mais tarde.¨

¨ Aí, o meu princípe não pode dançar porque chegou agora¨, disse ela, lixadíssima.

¨ Calma, Rainha- disse eu para fazê-la sorrir- você não ia querer dançar com um portuga com dois pés esquerdos¨

E assim ficou com uma troca de sorrisos. Mais tarde descobri que era Safira, rainha do Reggae de S. Luís e uma das principais do Candomblé cá do sítio, que se chama tambor de Creola, que no fim da festa fizeram uma cerimónia espectacular.

Pouco depois veio falar comigo uma Paulista cujo Pai tinha sido responsável pela campanha do dito Jackson e ela é nada menos que tetraneta do ... Eça de Queiros, chama-se mesmo assim, Isabel Eça de Queiroz, vi no BI.

Enfim, uma noite do camandro...


30/10/2006- S. Luís
Decidi dar uma descansada no Blog, porque se estava a tornar rotineiro e porque estou a aproveitar, por um lado, para sentir esta cidade que me encantou, e, por outro para socializar um pouco. Vou actualizá-lo sumariamente.
Na segunda-feira de manhã, estive a caminhar pelo centro histórico de S. Luís, que é muito tranquilo, quase bucólico não fora o calor e o rio/mar imenso que se vai avistando em muitos recantos. Usando uma expressão inglesa, muito
¨Laid Back¨.
Imbuído deste espírito entro na Rua Grande, que é exactamente o oposto, parece um souk árabe em termos de quantidade de pessoas e agitação, lojas na rua principal infindável e feiras nas transversais.
Assim, a paixão por esta terra só aumenta.
De tarde fui à Praia do Calhau, onde não o arreei, mas que também não me impressionou particularmente.
Ao fim da tarde, tinha combinado com o jeff e a crissy, as melhores pessoas que conheci na viagem (very inspiring) na tal esplanadita a la barcelona. Sentei-me e a Safira voltou à carga, convidou-me para ir a uma festa reggae que, segundo ela, era só ¨negritude, gente que gosta do Reggae como nós, nada de Playboys¨
Achei piada à míuda, um pouco armada, mas simpática e extraordinariamente bonita. Escusei-me simpaticamente, por várias razões que não vou aqui discriminar, picha mole és tu, Demo.
Á noite, foi a despedida do casal israelita, foram para Recife, e dei por mim sentado numa mesa do restaurante mais turístico da cidade com o casal de Americanos, três israelitas, duas norueguesas e um finlandês. Gente a mais, forró a altos berros, detestei.
Voltei para o hotel, a Safira seguiu-me e abordou-me outra vez. SOCORRO!!!!


31-10-2006- S. Luís- Alcântara- S. Luís

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Combinei com os americanos ir visitar a ilha de Alcântara, a uma hora de barco de S. Luís. Juntaram-se a nós o Gil, um Israelita que era conselheiro económico da embaixada em Madrid e que pôs 2 anos de licença sem vencimento para viajar pela América do Sul, e o Arava ou algo assim, finlandês, estudante de filosofia que também viaja pelo Brasil, mas com pouco talento para isso, já que foi de calcinha de ganga e ténis e gastou uma embalagem de protector na viagem.
Fomos de Catamarã, pensei que ía enjoar, mas nada disso, e 50 minutos depois chegámos a Alcântara, que no final do Séc XIX era a morada dos cidadãos mais influentes do Maranhão, mas que depois entrou em decadência.
Foi um dia muito bonito, em que começámos por entrar em todas as mercearias e frutarias da vila para comer alguma coisa e falar com as pessoas.
Comi uma fatia de bolo de manteiga , uma de bolo de chocolate e um suco de maracujá, tudo por 80 cêntimos.
Depois foi andar entre as casas mais ou menos preservadas e as ruínas, que serviam de campo de futebol e de recreio para os meninos da Escola. Caminhámos em direcção à praia, que é numa ilha limítrofe acessível por balsa.
Estava muito calor, andámos uma hora debaixo do sol do meio dia até que a malta decidiu desistir e ficar debaixo de uma sombra. Eu continuei, queria muito um mergulhito. virei a curva e vi o paraíso, uma pousada com redes, bebida e comida à beira de uma praia de rio, de onde se viam os pássaros vermelhos chamados Guarás, que estão à beira da extinção em quase todo o Brasil, mas que aqui existem com abundância.
Fui chamar os companheiros e ficámos por lá, a beber uma cervejinha e a comer pescadinhas fritas com salada deliciosas.
Quando cheguei, vi o empregado, um negro com afro, a mexer em C.D.s. Como já estou desesperado e não aguento mais ouvir forró, fui ter com ele, e imbuído de preconceito racial, perguntei-lhe se ele não tinha um reggaezinho.
Ele replicou, brusco ¨ Eu não gosto de Reggae não, cara. a minha onda é mais rock dos anos 80, Joy Division, Bauhaus, ou então o básico da electrónica, como kraftwerk, ou o rock alemão de Can ou Einsturzde Neubaten¨
(...)
A cena para mim foi um misto de filme do David Lynch com um sketch de Monty Phyton. fiquei de queixo caído.
Resultado, já nem fui à praia, fiquei horas a falar de música com o cara enquanto ouvimos o ¨ Sky's gone out¨ de Bauhaus, bem como outras bandas novas que ele me mostrou como uma banda galesa de fusão de rock com psy trance e muitas outras coisas, qualquer coisa tentacles, não apontei, mas que em certa medida faz lembrar mogwai ou tortoise. Godiva, faz o teu trabalho.
Na viagem de regresso, ao pôr do sol, coloquei-me na parte dianteira do catamarã a ver S. Luís aproximar-se e a levar autênticos banhos sempre que vinha uma onda maior, daqueles que lavam a alma até ao âmago.
Só me pergunto, será que vou ter algum dia mau???



1-11-2006 S. Luís do Maranhão
SLB SLB SLB SLB SLB GLORIOSO SLB GLORIOSO SLB
SOMOS A ÁGUIA QUE NO CÉU VAI VOAR
ALTO, MAIS ALTO, NINGUÉM NOS VAI PARAR
SOMOS A RAÇA, A FORÇA E O PODER
BENFICA, VENCER VENCER
Eu sempre disse que o Fernando Santos era um treinador da mais fina estirpe. 3 secos nos católicos de glasgow!
Taça Uefa, here we go!!!


Ontem mais um dia descontaído em S. Luís.
Durante o dia alternei uma hora de passeio sob um Sol abrasador com uma hora na cama sob o efeito simultâneo do ventilador de tecto e do ar condicionado a 20°.
Fui comprar a passagem para Belém, sexta-feira, vou no 32 para Caselas e fico ali junto aos Pastéis. Vou de avião porque o autocarro nocturno tem sido assaltado e a diferença entre os dois não chega a 20 euros.
Ao fim da tarde, fui para a esplanadinha com o casal de americanos, que rapidamente estão a ascender à categoria de queridos amigos, com o Gil, israelita, com o finlandês sponsored by nivea e com um sueco muito estranho, totalmente louco, no mau sentido, que vestia um polo lacoste com as golas viradas para cima, num misto de fanã com john travolta.
Numa das mesas, começou uma batucada, que rapidamente se transformou numa roda de samba. É a espontaneidade musical por excelência! Aí ficámos por umas duas horas, sob a égide do Deus Brahma, depois substituido pela Deusa Antártica.
Nisto, passa a menina mais bonita que vi nos últimos tempos. Mas menina mesmo, ela diz que tem 19 mas eu aposto em 16. O Gil foi lá falar com ela e convidou-a a juntar-se a nós. Tadinha, diz que o sonho dela era viver em Inglaterra. Credo! Eu disse-lhe para ela ter cuidado, para não se deixar levar por qualquer gringo e fazer ela a sua vida. Não me parece que tenha ouvido muito, as meninas daqui tem todas esse sonho, a do gringo prince charming que as leve para a Europa.
Resultado, foi um espectáculo burlesco ver o sueco e o finlândes (bem feios, por sinal) a falar inglês com a menina, que não entendia patavina, e ela respondendo em português, também devagar, e os outros sem fazer nenhuma ideia. mas nisto estiveram um bom tempo. pediram-me para traduzir, eu disse que não, o jeff também, e fomos jantar, fugindo daqueles escandinavos deslocados.
No jantar, a Crissy disse-me que quando me viu saltar para dentro da Toyota 4wd imaginou que eu fosse um poeta a viajar há 9 meses pela América Latina. Podia ser pior, não?
Depois, fomos a um bar de reggae um pouco. foi a última noite do jeff e crissy, vão viver para Salvador por três meses. espero manter o contacto, são mesmo pessoas especiais.



2-11-2006 S. Luís do Maranhão.
Dia de finados aqui é feriado, que para mim é a altura ideal para passear numa cidade, porque os habitantes estão just doin' their own thing.
Fui com os Americanos para a parte residencial do centro histórico, bastante mais pobre, e onde o povão se preparava para as intermináveis churrascadas, autêntico desporto nacional de norte a sul do Brasil.
Queria ir ao museu do negro, localizado no edifício sem janelas onde os escravos eram guardados até serem vendidos. Infelizmente estava fechado. Por isso, limitámo-nos a ¨hang out¨, o casal deixou as coisas no meu quarto e ficámos por lá na conversa.
Quando o sol se pôs, fomos para a pracinha do costume beber a cervejinha gelada do costume.
Mal chegámos, veio ter conosco um bêbado que nos deu uma seca de morte durante duas horas. Quer dizer, deu a mim, porque o Jeff ao fim de uns minutos deitou-se no banco e fingiu que dormia, e lá tive eu que gramar com o chorrilho de mentiras que o bebâdo Charles discorria, enquanto bebia cachaça misturada com vinho e com cerveja. blaaaarghhh!
O ser queria-nos convencer à força que fossemos com ele num barco até ao alto mar, onde ele, para provar a sua coragem, se besuntaria de sangue e mergulharia para provocar os tubarões, provando assim a sua coragem. Eu fui-lhe dando algum baile ou fingindo que acreditava... experiência de bar.
Depois, quando soube que o Jeff ía para Salvador, disse para ele ter cuidado, porque ele próprio tinha sido baleado seis vezes em pleno pelourinho, e que só tinha resistido porque tinha tido coragem de enfrentar a dor.
Enfim, foi de tal maneira que a certa altura tive que lhe dar uns berros para ele nos deixar em paz. E o bom do Charles, que era a puxar para o bisonte, baixou a cabeça como uma criancinha, balbuciou umas resmunguices incompreensíveis, e lá se foi embora.
Depois chegou um rapaz carioca que tinhamos conhecido na noite anterior, João, fotógrafo, que vive em Fernando de Noronha (coitado), e que viaja pelo Brasil a tirar fotos (pobrezinho). Mostrou-me o trabalho dele, impressionante. Em sítios como a Chapada Diamantina, na Bahia, que toda a gente aqui glorifica, Marajó, onde vou Sábado, e em Fernando de Noronha. Dei-lhe o mail e disse-lhe que quando for a Lisboa pôde expôr as fotos no Bar.
No fim da noite, os americanos foram para o Aeroporto, despedi-me deles com a certeza de que os vou tornar a ver.
2. Estou indeciso!
Amanhã vou para Belém, Sábado para a ilha do Marajó, quarta para Santarém, Sexta para Alter do Chão e Domingo...
tenho três hipótes:
a) Manaus- Era o meu plano inicial, mas de momento é a hipótese mais remota, porque me sai bastante caro, porque muita gente me diz que não vale realmente a pena e porque planeio fazer mais tarde uma viagem desde o Equador até à Amazônia, entrando na selva pela Venezuela ou pelo Peru, evitando assim o circuito gringo.
b) Salvador- Passar uns dias com o Jeff e a Crissy, sendo que ele já lá viveu dois meses, por isso conhece a cidade. No entanto, não sei se me apetece passar os últimos dias no caos de uma rande cidade.
c) S. Luís/ Santo Amaro- passava a noite de Domingo em S. Luís e segunda ía para Santo Amaro, o tal sítio mais bonito dos lençois,ainda por cima em época de Lua cheia
Aceito sugestões!


3-11-2006- S. Luís do maranhão- Belém do Pará
Deixo S. Luís com o coração um pouco dorido. Gostei muito, tanto que as duas noites que pretendia ficar se converteram em cinco. E se tempo tivera, prolongar-se-ia mais a minha estada. É daqueles sítios em que me sinto em casa.
Isso acontece-me com Lisboa (se não fosse lá nado e criado e a visitasse, acho que sentiria o mesmo), Paris, Barcelona e Madrid, Rio de Janeiro, em menor escala por causa da miséria e violência, e Buenos Aires, onde gostava de viver uns dois meses. E agora S. Luís do Maranhão.
Vou, mas voltarei, aqui mais do que qualquer outro sítio desta viagem.
Decolo de S. Luís e 40 minutos depois cumpro um sonho de qualquer aspirante a viajante: Avisto pela primeira vez, do Avião, o grande Rio Amazonas. Imenso, correndo na mata cerrada, invadido por ilhéus verdejantes e alimentado por braços de água, os ramais de acesso a uma colossal e aquática Autobahn.
Chego a Belém. Não posso dizer que seja uma desilusão, porque também não esperava muito. A primeira impressão é que se trata de uma cidade feia, suja, sobrepovoada e sem muita alma. A zona ribeirinha junto ao Amazonas está totalmente degradada, exceptuando uma monstruosidade tipo o Port Vell de Barcelona, construído para albergar os turistas receosos do ambiente pesado da cidade. Amanhã vou dar outro passeio por aqui, a ver se mudo de opinião, mas duvido.
Enfim, estou de passagem!
Claro que não há feia sem senão! Ao lado do meu Hotel, Hotel Unidos, tão vulgar que nem vale a pena falar, vejo 5 palavras divinais:
RODÍZIO DE SUSHI AO JANTAR
Afinal temos noite! Ainda bem que eu não almocei.
Jantei Néctar e Ambrósia, ou seja, 4 pedaços de :
- temaki california
- hot harumaki
- tempura maki
- hot king
- makinara salmão
- makinara polvo
- uramaki filadelfia
- sashimi polvo
- sashimi salmão
- uramaki califórnia
tudo regado com caipirinha de saké.
No restaurante, para além de mim, estavam duas moças sozinhas, uma branquinha que eu pensei ser estrangeira e outra, quarentona, e claramente brasileira. Eu estava a ler, como é costume, e reparei que as duas começaram a conversar.
Estava eu a enfiar o último pedaço de sushi pela goela abaixo com um escopro e um martelo (que enjôo, meu pai do céu) quando se aproxima de mim a moça que me convida a juntar-me a elas. Ainda pensei em inventar uma desculpa, mas não me ocorreu nada e então lá fui eu, cheio que nem um abade e meio desconfiado.
A verdade é que tivemos uma conversa muito interessante, eramos um trio bastante improvável. A branquinha, Noela (credo), com pinta de hippie mal lavada, como diria o demo, é mineira, de ascendência francesa, trabalha no Ibama, de preservação da Natureza, e tem um terreno com o marido na Amazônia, onde planeia ir viver em breve para dedicar-se à agricultura.
A ¨coroa¨, cachaceira, como a própria diz, é daquelas mulheres inteligentes que se libertou após ter deixado o marido, tem mais pelo na venta que o Artur Jorge e é cheia de certezas absolutas. Estranhamente, é carteira numa cidadezinha do interior do Pará. Isto de ser mulher não é fácil, um homem com aquela cabeça não era carteiro de certeza...
E ficámos por ali a discutir de tudo um pouco, política, meio-ambiente, etc, até sermos expulsos.
O trio improvável foi então a outro bar, , onde tocava uma banda de covers. Quando entrei estavam a tocar ¨ The boy with a thorn in his side¨ dos Smiths, e por aí continuaram, mais smiths, cure, o ¨special K¨ dos placebo, cake, black dos pearl jam, etc. enquanto eu e as moças discutíamos o sentido da vida de uma forma tão profunda e esclarecida da parte delas que me impressionou. Parecíamos amigos de longa data, e não havia ali segundas intenções da parte de ninguém.
Muito interessante mesmo.
Amanhã à uma da tarde embarco Amazonas acima para a Ilha do Marajó. Duvido que haja Net, por isso até breve!!!
´


4-11-2006- Belém- Ilha do Marajó

Acordei ressacadíssimo às nove e tal da manhã. Lá se foi o meu plano de ir ao mercado de Belém de madrugada. Enfim, não se pode ter tudo. Tomei o pequeno almoço e fui dar uma volta. Hoje a cidade já respirava um pouco melhor, menos gente. Acho que começo a entendê-la um pouco, mas em todo o caso não lamento muito deixá-la.

Perguntei no Hotel a que horas era o barco para Marajó. Disseram-me que à uma. Estranhei, no guia dizia que era às 14:30; Perguntei se tinham a certeza. Disseram-me que a certeza absoluta. Cheguei à estação às 12:30. O barco saiu às 15:00

ISSO É BRASIL, MERMÃO!!!


Barco tipo cacilheiro para a Trafaria. Viagem descendo o Amazonas até ao ponto onde ele espraia a sua imensidão sobre o Atlântico, junto à Ilha do Marajó.
Cinco Minutos após deixar Belém, já só se avistam ilhas com mata cerrada de ambos os lados. Depois, desaparece a margem esquerda, em seguida a margem direita, e fico a navegar no Rio Oceano.
Três horas de viagem, um pouco balançado mas muito agradável. chego ao Porto de Camarã e entro numa Van rumo a Salvaterra, vila onde marquei a pousada. Ao meu lado estava um bêbado que foi viagem inteira a falar comigo. Porquê sempre eu????
No meio da conversa etílica pergunta-me se eu achava que o Brasil tinha sido descoberto ou invadido pelos portugueses. Respondi que invadido, porque só se pode descobrir algo que não tem existência, e que parte das raízes do povo brasileiro já cá estavam . Ficou satisfeito e calou-se por dois minutos!
Cheguei à Pousada Bosque dos Aruãs, que me pareceu interessante pela descrição do lonely planet. Segui a gerente, muito simpática, até ao quarto que me estava destinado. Fiquei numa cabana de madeira situada num pequeno penhasco elevado três metros acima do Mar, ficando a cabana a uns 5 passos do declive.
Deitado na cama vejo pela janela a Lua cheia e o Mar cintilante, os raios lunares sendo os cabelos de Iemanjá, segundo a crença baiana. Estive uma hora na varanda da cabana com o Mar à minha frente, a Lua cheia à minha esquerda e uma nuvem de tempestade a relampejar no horizonte à minha direita. Até fiquei aparvalhado. É daqueles momentos em que fico com uma lágrima no canto do olho por não poder partilhá-lo com as pessoas de quem gosto, como dizia o Vinícius no texto que postei anteriormente.
Estou mesmo lamechas, deve estar para me vir o período...

Jantei na Pousada, a ouvir uma bossa nova dulcíssima, João Donato e Vanda Sá, que para além de ser um excelente guarda-redes, é óptimo a cantar bossa nova em voz de falsete (piada futebolística, Van der Saar guarda redes do Manchester, porra que é preciso explicar tudo).
O Menu foi sopa de Camarão, tipo sopa de cação alentejana mas com gamba fresquíssima e filé de peixe com um molho de refogado de tomate e camarão. Divinal!
Ás vezes acho que me torno chato por dizer bem de tudo. Perdoem-me esta forma de ser tão pouco portuguesa, eu sei que devia estar a descobrir os podres e a descascar em tudo e em todos. Mas acreditem, se não o faço, é porque não é mesmo possível.


Corcovado- António Carlos Jobim:

¨Quiet nights of quiet stars
Quiet chords from my guitar
Floating on the silence that surrounds us
Quiet thoughts and quiet dreams
Quiet walks by quiet streams
And a window that looks out on Corcovado
oh how lovely

Um cantinho, um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor, que lindo!
Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor¨




5-11-2006- Ilha do Marajó
Marajó está a ser a primeira decepção desta viagem!
A vila onde estou, Salvaterra, é suja e descaracterizada, e a Praia não é nada de especial, também suja e cheia de restaurantes implantados no areal a debitar forró e techno brega a altos berros. O Mar é um misto de doce e salgado com um cheiro desagradável E toda a ilha, praia inclusive, está infestada de Urubus, que é basicamente um abutre, um bicho tão nojento que me faz encolher os dedos dos pés cada vez que passo por eles.
Se não estivesse hospedado onde estou, ía embora hoje mesmo.
Amanhã vou dar um passeio por aqui para tentar perceber porque razão esta ilha é um dos 20 highlights do lonely planet no Brasil.
Então, fiquei na Pousada a acabar o meu livro, finalmente, porque com a minha vida social de S. Luís, acabei por deixá-lo um pouco de parte. O final não faz jus à qualidade das anteriores seiscentas e tal páginas, mas gostei imenso.
Ao fim da tarde, armei-me em Marco Chagas e resolvi alugar uma bicicleta. Gostei bastante, o espaço que medeia a protuberância peneo-testicular e o orifício rectal é que não achou muita piada. Será que os outros criam calo, ou sou eu que tenho ultra-sensibilidade perineíca?
Não sei, mas o certo é que, ao fim de alguns quilómetros, e apesar de estar em recta, já me levantava do selim como se estivesse a subir o alto da Sra. da Graça. só para dar descanso à terra de ninguém.
Ainda assim, fiz uns dez Km naquela pasteleira sem travões sem fumar um único cigarro e sem me cansar muito. Quer dizer, quando cheguei à pousada, estive uma hora prostrado numa espreguiçadeira em frente ao Mar, seguido de mais meia hora de barriga para baixo na cama sem conseguir arranjar forças para me virar.
Enfim, detalhes...

Depois, foi esperar pela Lua, hoje sim cheia, porque aqui pouco mais se faz. No mesmo sítio de ontem, lá estava a nuvem de tempestade a relampejar. Começo a acreditar que é uma projecção aqui da pousada. E Então lá apareceu a grande esfera alaranjada. MADE MY DAY!!!!
Ao jantar comi bife de búfalo, bovino que abunda aqui na ilha. Muito bom, suculento, tenro, gostei. E o queijo também é delicioso. Eu até agora Búfalo só conhecia a graxa para sapatos.
E pela primeira vez consegui comer carne mal passada nesta viagem. Nas minhas tentativas anteriores passei de pedir duas vezes a pedir três vezes a quase obrigar o empregado a sentar e explicar, fundamentadamente e por tópicos que queria o bife mal passado. Nunca resultou, até hoje. Talvez tenha sido pela apresentação em Power Point que preparei e apresentei à empregada, coadjuvado pelo coro de pequenos cantores de Salzburgo, que entoaram o hino da alegria.
Só digo disparates, deve ser de estar nesta pasmaceira de terra...


6-11-2006- Ilha do Marajó
Mas porque é que eu fui andar de bicicleta!!!
Estou com umas dores nas nalgas que parece que estive ontem à noite a passear nu e de cabeleira loira pelo pátio do carandiru. E tenho uma ferida no peito do pé do tamanho de uma moeda de um cêntimo causada pela fricção da fivela da Hawaiana enquanto pedalava.
Ainda fui de manhã a Soure, capital do Marajó, numa viagem de barquinho que me teria sido agradável, não fora a dureza do banco de madeira sobre a minha rectaguarda virgem e delicada.
Depois, chegado lá, tinha que andar três km até à praia, andei 500 m e voltei para trás, sucumbindo à ferida e ao calor.
Dia perdido, voltei para a pousada, dormi, li, comi, dormi, li, comi, vim à net e agora vou ler e depois dormir. Gaita!
Entretanto, ontem havia começado a ler ¨ O Livro Negro¨, do Lawrence Durrel, que é, para mim o escritor que melhor domina a arte das palavras, pelo menos no que respeita à cor e perfume poético, erudito mas palpável, que confere à sua prosa.
No entanto, cruel desilusão! o ¨ Livro Negro¨, escrito quando Durrel tinha 24 anos, revela, talvez por isso, uma imaturidade e uma petulância para mim intoleráveis. Por isso, aos fim de 30 pags, pu-lo de lado (podia ter pulado de frente, mas não me apeteceu).
E ainda bem que o fiz, porque assim me foi dado conhecer um grande escritor norte-americano, Norman Mailler.
Já li mais de metade do seu livro, ¨ O sonho Americano¨, e estou a adorar. Por um lado, é uma espécie de livro ¨ noir¨, no mesmo sentido dos filmes homonimamente tipificados, imagino perfeitamente o James Stewart a desempenhar o papel, num preto e branco retro dos anos sessenta.
Tem um cariz fortemente psicológico, visceral mesmo, e um erotismo pungente, mas num estilo que me cativa, ao contrário da petulância do jovem Durrel.
E tem metáforas para mim brilhantes, como por exemplo esta, após o personagem principal asfixiar a sua mulher até à morte no quarto¨:
¨ Era um cenário tranquilo, um campo vazio como um canhão de guerra civil: acabava de disparar e brotava do cano uma derradeira coluna de fumo, que o vento dissipava. A tranquilidade era desse tipo¨.
3. E por hoje, como sou uma pessoa doente, é tudo o que tenho a dizer!



7-11-2006- Ilha do Marajó
Finalmente, hoje vi sítios bonitos nesta Ilha do urubu. Muito bonitos mesmo, já posso dizer que valeu a pena ter vindo cá.
Na mesma pousada que eu está um Suiço de 58 anos, que veio viajar sozinho pelo Brasil, numa espécie de férias conjugais. Como ele fala um inglês sofrível, não percebi se ele é carcereiro ou assistente social numa prisão de Zurique. Espero que este último.
Enfim, o senhor conheceu um Alemão que tem uma pousada na vila de Soure, e que nos podia arranjar uns passeios pela ilha.
E lá fomos os dois, o helvético Erwin, simpático mas meio passado dos cornos e muitíssimo atrofiado, e eu, este modelo de beleza, simpatia e sagacidade que todos vós aprenderam a idolatrar.
Estivemos na conversa com o alemão, Bernd, que era prof. de educação física em Wisbaden e jogador da Manschaft de volleyball teutónica, como diria o Gabriel Alves, e que um dia veio parar ao Marajó, apaixonou-se por uma moça, e por cá ficou.
Conseguiu que um marceneiro local, que têm uma lancha, nos levasse a dar um passeio pelos afluentes do Amazonas, que têm ligação por canais cavados no meio da floresta tropical. Simplesmente espectacular.
Á tarde, fomos a uma fazenda da cunhada dele, uma descendente de Libaneses, onde faz criação de Búfalos, bovinos, cavalos, etc, e que tem uma áreazita de seis mil hectarezitos com floresta, pântano, lagos, rios, praia, tudo. Chegamos lá e a puta da velha (passe a expressão) obrigou-me a montar num búfalo, que lá estava de sela posta pronto a receber a turistada, coisa que eu detesto. Fi-lo para não ser indelicado e até a deixei tirar-me foto, que diga-se de passagem, é a primeira desta viagem em que eu apareço.
Logo a seguir, vejo a mulher a apanhar uma coisa qualquer do chão. Começou aos Gritos: ¨
- Francisco, vem cá, o que é isto?
- Não sei, senhora!
- Francisco, tu não me mintas, tu comeste?
- Não senhora!
- Francisco...
- Comi senhora!

ERA UM PEDAÇO DE PELE DE UM CAMALEÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

disse-me ela que faz parte dos hábitos alimentares deles mas que está proibido pelo ibama caçar porque estão em extinção
De repente, vejo aproximar-se um mini bus que despejou 20 turistas lá no éstábulo dos bufalos. paulistas, sobretudo, e uma portuguesa, Gracinda, que tinha um aspecto híbrido de imigrante na frrrrance com adepta do boavista. E depois admiramo-nos das piadas de portugueses. Aquela gente fez tanto barulho e deu tantos gritinhos ao andar de búfalo e fez tantas perguntas idiotas que até fiquei com tonturas. E nunca vi búfalos com aspecto tão sábio, por comparação.
Depois, cena clássica de tour de carneiradas, na qual eu não estava incluído. A Sra. libanesa pôs a propria Mãe, que pelo aspecto decrépito deve ter sido uma das obreiras da independência do Brasil, a servir suminhos e tostinhas com doce aquela canalhada toda, isto enquanto os mais audazes davam mangas na boca dos búfalos, entre gritinhos nervosos e clicks de máquina fotográfica.
A isto seguiu-se o que normalmente sucede quando se vai visitar uma fazenda imensa num santuário ecológico com todo o tipo de fauna e flora. Foi sem surpresa quando ouvi a Sr. Libanesa anunciar:

¨ E agora, visitemos o nosso museu de Arte Sacra¨
Ía comprometendo a minha imagem de rapaz bem comportado, porque quase soltei uma sonora gargalhada, sobretudo quando traduzi para o Suiço e vi a cara dele.
Antes de entrar, fiquei a apreciar o concurso de benzidelas que a turistada fez ao entrar na capela mixururca decorada com umas estatuetas vulgaríssimas. Uns tocavam com o joelho no chão, outros beijavam os dedos depois de fazer a cruz. Um fartote. Ainda pensei em entrar, benzer-me e dar um 360° à Michael Jackson, mas estou com uma ferida no pé.
Depois, a dona da fazenda predicou, naquele cenário eclesiástico, o seu amor aos animais, ela que é veterinária e dedicou toda a sua vida aos bufalos. Ó minha amiga, o que não falta por aí são mulheres a dedicar a vida delas a bufalos ou outro de tipo de gado, bovino, suíno e, não poucas vezes, caprino.
A Sra. até era simpática, não fora o pequeno pormenor de ser fascista e herdeira directa dos beneficiários da escravatura, que de certo modo ainda subsiste ali, embora de um modo mais paternalista. Mas continua, exploração do homem pelo homem e uma pessoa com seis mil hectares de terra e 6.000 pessoas sem nada. É justo, não é?
Enfim, mas a senhora, que gostou imenso de mim (porra, que isto de ser cordial não compensa), chegou-me a dizer que com a actual situação política, ou seja, vitória do give me 4 lula, está à pensar seriamente em ir viver para Europa. Porque senão podia acontecer como no Portugal pós 25 de abril, quando um amigo dela português teve que lhe enviar para lá os seus cavalos andaluzes porque a população queria comê-los...
Cara senhora, com todo o respeito, VÁ À BARDAMERDA!!!!
Continuando, que estou a voltar aos testamentos. Após a cena da capela, e para meu espanto, a turistada meteu-se no autocarro e ala que é cardoso, nem viram nada da fazenda. Fiquei tão contente!!!
E então, a Sra destacou-nos o Sr. João, cuja família trabalha na Fazenda há 4 gerações (slave slave slave), e que pisava bostas de meio quilo com hawaianas sem pestanejar, para dar um passeio a pé comigo e com o Suiço.
Aí sim, maravilhoso, Búfalos e cavalos em liberdade num terreno alagadiço com todo o tipo de pássaros ( O nicolardo nem precisava de binóculos), desde tucanos a papagaios a garças brancas e azuis, colhereiros róseos, guarás escarlates, etc... espectacular.
Depois ao voltar para junto da dona, ela perguntou-me se tinha gostado. Eu, sincero, disse-lhe que tinha gostado muito do passeio na fazenda, mas que sou um viajante solitário e que muita turistada me fazia impressão. Ela segurou-me no braço e disse ¨ entendo, eu também sou uma viajante solitária¨.
Suspeito que eu devia estar a cheirar um bocado a búfalo, daí, talvez, aquela reacção...



8-11-2006- Marajó- Belém- SantarémHoje acordei com um humor de Búfalo!

Esta malta tem a mania, pelo menos no que respeita a viagens, de combinar as coisas com uma antecedência absurda. Já em Paulino Neves me irritou, a Toyota para Barreirinhas devia ter chegado às 13:00 e ao 12:30 já tinha metade da vila à minha procura porque anteciparam, Resultado, tive que arrumar tudo à pressa e ainda os obriguei a voltar para trás porque tinha esquecido o carregador de bateria da máquina fotográfica.

Hoje, tinha Barco de Marajó para Belém ás 6.30, a van demora meia hora a chegar ao cais, por isso, a van passava na pousada às 5 da matina!!! Porra, será que é preciso fazer check in?!?!?!

Então, acordei às 4.30, raspei as ramelas com uma faquinha e lá comecei a arrumar as coisas. Ás 4.40 tocam-me à porta, era o motorista da Van, com cara de poucos amigos a apontar para o relógio. escondi o meu mau humor na bochecha esquerda, sorri a contragosto e disse-lhe que já ía. 5 minutos depois, o real cabrão bate-me à porta outra vez, com ar de que ou ía ou ele punha-se a andar.

Aí, viu o que poucos viram até hoje. O meu real mau humor matinal. Três palavrinhas de voz rouca, dois monossílabos, ¨ Jᨠe ¨vou¨, e outra de três sílabas, que não vou reproduzir, foram suficientes para que ele baixasse a bolinha.

É que um gajo combinar algo às 5 da manhã e chegar 20 minutos adiantado, é dose, não há quem aguente.

Como é obvio, chegamos ao cais às 5.20 que raaaaaaiiiiivaaaaa!!!!!!

Cheguei ao barco e agarrei-me logo a um banco corrido, para dormir durante a viagem. Caguei no Amazonas, tenho sono. Mas depois, vício maldito, levantei-me para fumar um cigarro, e quando regressei já tinha um cidadão esparramado no meu banco, sendo que o pezão dele só me dava margem para sentar e pouco mais. Mas ainda assim dormi um pouco e o humor lá foi melhorando.

Chegado a Belém, Taxi para o Aeroporto. Devo estar com especial aptidão para as relações sociais, pois no final dos 20 minutos de percurso já o Natalino taxista me dizia que era uma pena que só nos tivessemos conhecido ali, porque senão íamos beber umas cervejas com os amigos e umas meninas, e que quando voltar a belém fico em casa dele, e deu-me o n° de telemóvel, etc... será Impulse?

Enfim Santarém, cidadezinha n confluência dos rios amazonas e tapajós, e muito interessante, fervilhante de comércio, muito descontraída e com um avendia marginal muito bonita. Gostei.

Jantei numa esplanada junto do Rio. alguém me pôs o seguinte papel na mesa:

¨ ATENÇÃO!!!!
Deficiente auditivo pede a sua ajuda com o objectivo de comprar um lote, para aí poder construir uma casa. Se der 1 Real ou 0, 50, será inundado com as bençãos eternas de Deus, porque só Jesus salva!!!
Recordou-me de uma das poucas vezes que dei dinheiro a um carocho no Bairro alto. Estávamos em frente ao Spot e pediu uns trocos para comprar uma casa de férias nos Açores.
Nota dez pela originalidade



9-11, 10-11, - Alter do Chão.
Vou ser rápido porque a net aqui é muito instável. Estou num sítio tão bonito, mas tão bonito, ahhhhhhhhhhhhh!!!
Uma vilazinha na margem de uma lagoa enorme com uma ilha de areia branca no meio, chamada ilha do amor, e acessível a pé com agua pela cintura.Na ilha, as barraquinhas dispõem as mesas e cadeiras dentro de àgua, estava lá um gordão com àgua pelo queixo e com os dois braços levantados, segurando numa mão a cerveja e na outra o copo. Vida duuuuraaaa!!!
Á volta da lagoa, só floresta, passarinhos e muita beleza.
A parte da ilha do amor parece as Caraíbas ou Bora Bora. A parte do lago, parece a Suiça ou a Escócia. É impressionante.
Ontem cheguei de Santarém, pus a tralha na pousada, cujo quarto parece uma cela do linhó, sem janelas e com as paredes e chão escavacados, e meti-me na lagoa com àgua até ao queixo, porque o calor estava insuportável.
Depois fui-me deitar cedo, porque queria acordar às 4 da matina para ver o nascer do sol. O que não aconteceu, porque choveu torrencialmente entre as 4 e as 8 da manhã, pelo que fiquei confinado à reclusão da minha cela, a terminar o Mr. Norman Mailler.
Quando o tempo abriu um pouco, fui ao café beber uma cola e comecei na conversa com dois tipos, sendo que um deles, Jorge, me levou, a mim e a dois funcionários do Ministério do Ambiente que chegaram entretanto a um retiro no meio da floresta onde vive uma espécie de xamã indío/hippie. Fomos no carro mais podre que alguma vez vi na minha vida, sem banco do pendura e com um buraco no chassis nesse espaço, e que ligava por ligação directa.
E lá fomos, estivemos a falar com o homem, Paulo Brasil, que tem uma espécie de culto baseado nos rituais indíos da amazónia, tivemos uma conversa de duas horas bastante interessante.
Depois, o tal do Jorge, que é uma espécie de discípulo renegado, o que dava para ver pela forma como o Paulo Brasil olhava para ele do alto da rede onde se balançava de cada vez que ele fazia um comentário, invariavelmente oco e despropositado, foi-nos mostrar o bosque sagrado, onde eram realizadas as cerimónia do Culto/seita (não percebi muito bem)
Chegámos a uma clareira no meio da mata, que era o local central da cerimónia, com um santuário e umas plantas, e o cara diz.
¨ Aqui é o círculo de fogo, onde comungamos os nossos espíritos, blá blá¨
Imediatamente a seguir a dizer isto, começa a mijar contra uma árvore. E enquanto o fazia, pôs-se a falar sobre respeito, que é o princípio fundamental do culto.
Surreal!!!!
Depois, passei o resto do dia com o Bruno e o Haroldo (haroldo, eh eh). Das duas uma, ou estou com muita sorte ou encontra-se restaurada a minha fé na raça humana. Que dois caras interessantes! Um é biólogo e outro agrónomo, ambos senhores de uma cultura e inteligência impressionantes. Tanto que estivemos juntos das nove da manhã à uma da manhã, sempre a conversar ou a rir. excelente!

Este Blog vai definhar, poque a Net aqui é linha telefónica e vai constantemente abaixo para não mais voltar.
Depois vou para Santo Amaro, que nem net tem.
Em todo o caso, vou tentar actualizar. Afinal, já falta tão pouco...
buááaááááááááááááá!!!



11-11-2006- Alter do Chão

Comecei o dia a ver algo inaudito. Um tipo a andar de bicicleta e a tocar viola!

De resto, jornada integralmente dedicada à Natureza, na companhia dos meus companheiros ambientalistas. Trilhas na floresta, passeio pelas praias de rio, a oeste, e de lagoa, a este, para culminar com uma escalada ao fim da tarde ao monte mais alto daquela região do Tapajós para uma visão panorámica sob aquele cenário magnífico, pontuada pela maviosa orquestra da floresta. Tive vontade de passar ali a noite.

Mas descemos, jantámos e fomos ao bar lá da terra, onde assisti na mesa ao lado a mais uma cena de filme, esta de Almodóvar:

8 mulheres numa mesa, duas cinquentonas, 2 quarentonas, 3 nos vinte e uma teenager, que, pela conversa era recém casada. Mãe, Tias, Primas e Irmã da dita teenager.

E a conversa versava, alto e bom som, sobre o facto de o marido da teenager lhe ter pedido que ela lhe enfiasse o dedo no rabo!!!

E a Mãe dizia ¨ tens que fazer, filha, é como o sexo oral, tudo é acto libidinoso¨

E a Tia ¨ Não faz não, depois não tem limite, onde isso vai parar?

E a Teenager ¨ Mas seu eu não fizer, tenho medo que ele vá procurar um homem.

E a prima ¨ Eu sou advogada, eu é que sei, você tem que fazer o que lhe der prazer, senão ele vai procurar quem o faça¨

E nós na mesa do lado... O Haroldo (Haroldo eh eh) leu o cardápio umas vinte vezes e eu quase arrancava o lábio inferior de tanto o morder, para que não caísse na tentação de sugerir uma solução de compromisso, como o dedo mindinho...


12-11 a Alter do Chão-S. Luís
13-11 S. Luís- Santo Amaro
15-11 Santo Amaro - S. Luís
16-11 S. Luís- Fortaleza-Lisboa.


Resumindo:

Em Alter do Chão, acordei bem cedo de manhã para subir novamente ao monte, que a hora e pouco de trilha e escalada são bem recompensadas por aquele panorama.

Depois, uma hora de imersão naquela lagoa tépida e avião para S. Luís.

Sobrevôo magnífico pelo manacial de lagoas, rios, e areais que salpicam a monocromática selva amazônica. vivi um momento algo maníaco-depressivo, pois ouvi todo o tempo as mesmas três musicas: Cure for Pain e I'm Free now, de Morphine (Mark, R.I.P) e A Place Called Home de P.J. Harvey.

Depois, S. Luís do Maranhão, cidade que ficou com o meu coração!

No dia seguinte, Santo Amaro, lugarejo nas fraldas dos Lençois (isto soa mal mas que se lixe!), perto de uma lagoa fabulosa, lagoa da gaivota, onde passei uma tarde que nunca vou esquecer. Após o pôr-do-sol, comecei a correr como um moleque pelas dunas e quando parei e olhei aquele cenário tive uma descarga emocional que quase criava uma outra lagoa a meu pés.

Só um pensamento inundava a minha mente:

ESTE SOU EU!!!!!

Depois S. Luís, despedida, até breve. e agora seca de 7 horas no aeroporto de Fortaleza.

Amanhã ponho um ponto final neste pasquim...







Epílogo.
Acabou-se o que era doce!
Chegou ao fim aquela que considero ter sido a primeira viagem da minha vida, apesar de já ter sido antes turista em vários países.
Digo isto porque considero que qualquer viagem, geográfica ou egográfica( se não existe, passa a existir), é algo de marcadamente individual, com as etapas e as vicissitudes crivadas pela vontade pessoal.
E esta viagem teve, de facto, tanto de geográfica como de interna, de busca do "Eu", do " Quem sou Eu", questionando certas opções filosóficas da adolescência.
Congratulo-me porque acho que redescobri o meu " Eu" profundo e sensível, o verdadeiro, e isso fez com que voltasse a sentir-me vivo, o que é muito importante.
Regresso então a casa de peito e coração cheio. Vivi um bom acervo de experiências e sensações, ri, chorei, pensei, abstraí, estive com a Natureza e com as pessoas, e, mais do que isso, vivi comigo próprio uma relação muito intensa, saudável e gratificante, num onanismo mental e emocional.
E até me diverti, como parecia ser tão importante para todos os que se despediram de mim antes de partir, e que só me diziam " diverte-te" e " usa dois preservativos" (como se isso fosse possível para alguém com a minha envergadura...)
Essencialmente, durante este mês de visita ao País que eu amo, senti-me muitas vezes intensamente feliz, o que para mim é muito importante, pois, nas palavras de João Ubaldo Ribeiro, que corroboro,
" A gente só leva desta vida a vida que a gente leva"
FIM!
P.S. TENHO OS MELHORES AMIGOS DO MUNDO!!!! FOI A MELHOR SURPRESA DA HISTÓRIA! OBRIGADO!


2 Comments:

Blogger Raquel said...



Linda viagem e linda partilha!

7:33 AM  
Blogger Raquel said...

lindo.

7:48 AM  

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